Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Jorge de Lima - Vereis que o poema cresce independente

O poeta percebe que o poema irrompe de sua pena de forma imoderada, tirânica e independente de sua vontade, sem qualquer margem ou porto onde ancorar, haja vista que prescinde de balizas.

Verdade ou sonho, sangue ou brisa, noite ou dia, vida ou passamento, tudo é matéria de que se vale para se estender além dos contornos que nos possibilitariam vislumbrá-lo com nitidez. Pouco importa: o poema também expressa o contingente!

J.A.R. – H.C.

Jorge de Lima
(1893-1953)

Vereis que o poema cresce independente
e tirânico. Ó irmãos, banhistas, brisas,
algas e peixes lívidos sem dentes,
veleiros mortos, coisas imprecisas,

coisas neutras de aspecto suficiente
a evocar afogados, Lúcias, Isas,
Celidônias... Parai sombras e gentes!
Que este poema é poema sem balizas.

Mas que venham de vós perplexidades
entre as noites e os dias, entre as vagas
e as pedras, entre o sonho e a verdade, entre...

Qualquer poema é talvez essas metades:
essas indecisões das coisas vagas
que isso tudo lhe nutre sangue e ventre.

Em: “Livro dos Sonetos” (1949)

Na Praia
(Edward H. Potthast: pintor norte-americano)

Referência:

LIMA, Jorge de. Vereis que o poema cresce independente. In: __________. Obra poética. Edição completa, em um volume organizada por Otto Maria Carpeaux. Rio de Janeiro: Editora Getúlio Costa, nov. 1949. p. 563.

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