Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 27 de agosto de 2016

Miguel Torga - Sísifo

A sina humana seria inglória luta de Sísifo contra a desventura? Torga sugere que enquanto não formos capazes de trilhar o caminho do futuro com liberdade, haveremos de recomeçar a cada manhã a nossa missão, realinhando-a às mais diletas quimeras a que aspiramos.

Trata-se de recolha insaciável de sucessivas ilusões no pomar, num cavalgar que bem pode ser quixotesca aventura, louca cavalgada contra moinhos de vento. Mas o que importa, se o relevante é a semeadura, de onde possamos extrair os frutos – ou os que virão depois de nós?!

J.A.R. – H.C.

Miguel Torga
(1907-1995)

Sísifo

Recomeça…
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar
E vendo
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.

Sísifo
(Tiziano Vecellio: pintor italiano)

Referência:

TORGA, Miguel. Sísifo. In: __________. Diário: vols. XIII a XVI. Diário XIII. 5ª edição conjunta. Alfragide, PT: D. Quixote, 1999. p. 20.

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