A sina humana seria inglória luta de Sísifo contra a desventura? Torga
sugere que enquanto não formos capazes de trilhar o caminho do futuro com
liberdade, haveremos de recomeçar a cada manhã a nossa missão, realinhando-a às
mais diletas quimeras a que aspiramos.
Trata-se de recolha insaciável de sucessivas ilusões no pomar, num cavalgar
que bem pode ser quixotesca aventura, louca cavalgada contra moinhos de vento.
Mas o que importa, se o relevante é a semeadura, de onde possamos extrair os
frutos – ou os que virão depois de nós?!
J.A.R. – H.C.
(1907-1995)
Sísifo
Recomeça…
Se puderes,
Sem angústia e sem
pressa.
E os passos que
deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto
queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no
pomar
E vendo
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te
esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te
reconheças.
(Tiziano Vecellio:
pintor italiano)
Referência:
TORGA, Miguel. Sísifo. In: __________. Diário: vols. XIII a XVI. Diário XIII.
5ª edição conjunta. Alfragide, PT: D. Quixote, 1999. p. 20.
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