Eis mais um poema cujo tema é a própria arte poética, simplificada a ponto de se poder associar a relação autor-leitor como a de dois amantes, com o leitor
ideal equiparado a um paradoxo divino, a fustigar o poeta para levar o poema ao
seu nível. Pois, como afirma Ashbery: o poema é você (o leitor)!
Assim, independentemente da mensagem concebida pelo poeta, o leitor
apreciará o poema a seu modo e, dessa forma, formulará o seu “próprio poema”,
não cabendo mais ao autor, por conseguinte, a tarefa de “controlar” a
interpretação que do texto porventura se extraia.
J.A.R. – H.C.
John Ashbery
(n. 1927)
Paradoxes and
Oxymorons
This poem is concerned with language on a very
plain level.
Look at it talking to you. You look out a window
Or pretend to fidget. You have it but you don’t
have it.
You miss it, it misses you. You miss each other.
The poem is sad because it wants to be yours, and
cannot be.
What’s a plain level? It is that and other things,
Bringing a system of them into play. Play?
Well, actually, yes, but I consider play to be
A deeper outside thing, a dreamed role-pattern,
As in the division of grace these long August days
Without proof. Open-ended. And before you know it
It gets lost in the steam and chatter of
typewriters.
It has been played once more. I think you exist
only
To tease me into doing it, on your level, and then
you aren’t there
Or have adopted a different attitude. And the poem
Has set me softly down beside you. The poem is you.
Abandonado como as docas
no alvorecer
(Verónica Leiton:
artista chilena)
Paradoxos e Oximoros
Este poema diz
respeito num nível muito simples à linguagem.
Ei-lo falando com
você. Você olha pela janela
Ou finge nervosismo.
Você o possui mas não possui.
Você não o encontra,
nem ele a você. Vocês se desencontram.
O poema está triste,
pois quer e não lhe pode pertencer.
O que é um nível
simples? É isso e mais aquilo,
Pondo um sistema disso
tudo em jogo. Jogo?
Bom, de fato, sim,
mas considero o jogo
Algo externo e mais
profundo, um papel sonhado a cumprir,
Como na graça
dividida sem verificação nesses longos
Dias de agosto. Com o
final em aberto. E antes de que você se dê conta
Ele se perde no calor
e no matraquear das máquinas de escrever.
Foi novamente posto
em jogo. Creio que você existe só
Para me provocar-me a
fazê-lo, no seu nível, e então você já foi embora
Ou assumiu uma
postura diferente. E o poema
depôs-me suavemente do
seu lado. O poema é você.
Referência:
ASHBERY, John. Paradoxes and oxymorons / Paradoxos e oximoros. Tradução de Nelson
Ascher. In: ASCHER, Nelson (Tradução e Organização). Poesia alheia: 124 poemas traduzidos. Edição bilíngue. Rio de Janeiro, RJ: Imago,
1998. Em inglês: p. 172; em português: p. 173. (Coleção ‘Lazuli’)
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário