Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

John Ashbery - Paradoxos e Oximoros

Eis mais um poema cujo tema é a própria arte poética, simplificada a ponto de se poder associar a relação autor-leitor como a de dois amantes, com o leitor ideal equiparado a um paradoxo divino, a fustigar o poeta para levar o poema ao seu nível. Pois, como afirma Ashbery: o poema é você (o leitor)!

Assim, independentemente da mensagem concebida pelo poeta, o leitor apreciará o poema a seu modo e, dessa forma, formulará o seu “próprio poema”, não cabendo mais ao autor, por conseguinte, a tarefa de “controlar” a interpretação que do texto porventura se extraia.

J.A.R. – H.C.

John Ashbery
(n. 1927)

Paradoxes and Oxymorons

This poem is concerned with language on a very plain level.
Look at it talking to you. You look out a window
Or pretend to fidget. You have it but you don’t have it.
You miss it, it misses you. You miss each other.

The poem is sad because it wants to be yours, and cannot be.
What’s a plain level? It is that and other things,
Bringing a system of them into play. Play?
Well, actually, yes, but I consider play to be

A deeper outside thing, a dreamed role-pattern,
As in the division of grace these long August days
Without proof. Open-ended. And before you know it
It gets lost in the steam and chatter of typewriters.

It has been played once more. I think you exist only
To tease me into doing it, on your level, and then you aren’t there
Or have adopted a different attitude. And the poem
Has set me softly down beside you. The poem is you.

Abandonado como as docas
no alvorecer
(Verónica Leiton: artista chilena)

Paradoxos e Oximoros

Este poema diz respeito num nível muito simples à linguagem.
Ei-lo falando com você. Você olha pela janela
Ou finge nervosismo. Você o possui mas não possui.
Você não o encontra, nem ele a você. Vocês se desencontram.

O poema está triste, pois quer e não lhe pode pertencer.
O que é um nível simples? É isso e mais aquilo,
Pondo um sistema disso tudo em jogo. Jogo?
Bom, de fato, sim, mas considero o jogo

Algo externo e mais profundo, um papel sonhado a cumprir,
Como na graça dividida sem verificação nesses longos
Dias de agosto. Com o final em aberto. E antes de que você se dê conta
Ele se perde no calor e no matraquear das máquinas de escrever.

Foi novamente posto em jogo. Creio que você existe só
Para me provocar-me a fazê-lo, no seu nível, e então você já foi embora
Ou assumiu uma postura diferente. E o poema
depôs-me suavemente do seu lado. O poema é você.

Referência:

ASHBERY, John. Paradoxes and oxymorons / Paradoxos e oximoros. Tradução de Nelson Ascher. In: ASCHER, Nelson (Tradução e Organização). Poesia alheia: 124 poemas traduzidos. Edição bilíngue. Rio de Janeiro, RJ: Imago, 1998. Em inglês: p. 172; em português: p. 173. (Coleção ‘Lazuli’)

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