Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 13 de agosto de 2016

Nicolas Boileau-Despréaux - Epitáfio de Arnauld

Boileau e Arnauld, ambos franceses, foram contemporâneos, e na morte do segundo, Boileau prestou-lhe homenagens por meio do epitáfio abaixo, que permite ver, em breves traços, muito da personalidade do saudado teólogo.

Arnauld, uma das figuras mais importantes do jansenismo, foi também filósofo e matemático, e, a seu tempo, entrou em profundas controvérsias com Descartes, Malebranche, Leibniz e os jesuítas. Chegou mesmo a ser expulso da Sorbonne. Ainda assim, ninguém discute a sua influência na vida intelectual da Europa do séc. XVII. Até por isso, seus escritos, condensados posteriormente à sua morte em 42 tomos, foram amplamente divulgados e lidos durante mais ou menos meia centúria.

J.A.R. – H.C.

Nicolas Boileau-Despréaux
(1636-1711)
Retrato de Hyacinthe Rigaud

Epitaphe d’Arnauld

Au pied de cet autel de structure grossière,
Gît, sans pompe, enfermé dans une vile bière,
Le plus savant mortel qui jamais ait écrit;
Arnauld, qui, sur la grace instruit par Jésus-Christ,
Combattant pour l’Église, a, dans l’Église même,
Souffert plus d’un outrage et plus d’un anathème.
Plein de feu qu’en son coeur souffla l’esprit divin,
Il terrassa Pélage, il foudroya Calvin,
De tous les faux docteurs confondit la morale.
Mais, pour fruit de son zèle, on l’a vu rebuté,
En cent lieux opprimé par leur noire cabale,
Errant, pauvre, banni, proscrit, persécuté;
Et mesme par sa mort leur fureur mal éteinte
N’aurait jamais laissé ses cendres en repos,
Si Dieu lui-même, ici, de son ouaille sainte
A ces loups dévorants n’avait caché les os.

Antoine Arnald
(1612-1694)
Pintura de Jean-Baptiste de Champaigne

Epitáfio de Arnald

Aos pés deste altar de rude estrutura
Jaz, sem pompa, confinado num ataúde modesto,
O mortal mais sábio que jamais se voltou à escrita;
Arnauld, que, sob a graça instruída por Jesus Cristo,
Combatendo pela Igreja, dentro da mesma Igreja,
Foi afligido por ultrajes e anátemas.
Pleno do fogo que em seu coração soprou o divino espírito,
Arrasou Pelágio, fulminou Calvino,
E desmascarou a moral de todos os falsos doutores.
Porém, pelo fruto de seu zelo, tem sido refugado,
Em cem lugares oprimido por sua negra cabala,
Errante, empobrecido, banido, proscrito, perseguido;
E mesmo depois de morto sua fúria mal extinta
Nunca haveria de deixar suas cinzas em repouso,
Se o próprio Deus, aqui, pelo seu santo rebanho
A esses lobos vorazes não houvesse ocultado os seus ossos.

Referência:

BOILEAU-DESPRÉAUX, Nicolas. Epitaphe. In: ARLAND, Marcel (Choix et commentaires). Anthologie de la poésie française. Nouvelle édition revue et augmentée. Paris (FR): Éditions Stock, 1960. p. 450.

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