Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 20 de agosto de 2016

W. H. Auden - Blues Fúnebres

O poeta chora a morte de alguém que lhe era próximo – por quem nutria afeição, a seu ver infindável –, e espera que tudo ao seu redor se torne tranquilo, para poder assimilar tal perda: que os animais, os relógios e os pianos silenciem!

Apesar da temática soturna do poema, Auden insere em seus versos certa dose de humor: por que não – para conferir certa modulação insólita ao cortejo, em contraposição ao tom solene do tambor que o anuncia – um avião a expelir fumaça para anunciar a todo mundo que “ele morreu”?!

P.s.: Para quem aprecia comparar traduções, há neste endereço outra versão ao português para o mesmo poema de Auden, provavelmente de autoria do falecido crítico e tradutor Daniel Piza, haja vista o endereço dizer respeito ao blog que este mantinha no ‘site’ do Estadão.

J.A.R. – H.C.

W. H. Auden
(1907-1973)

Funeral Blues

Stop all the clocks, cut off the telephone,
prevent the dog from barking with a juicy bone,
silence the pianos and, with muffled drum,
Bring out the coffin, let the mourners come.

Let airplanes circle moaning overhead
scribbling on the sky the message: he’s dead.
Put crepe-bows round the white necks of the public doves,
let the traffic policemen wear black cotton gloves.

He was my North, my South, my East and West,
my working week, my Sunday rest,
my noon, my midnight, my talk, my song.
I thought that love would last forever; I was wrong.

The stars are not wanted now, put out every one.
Pack up the moon, dismantle the sun.
Pull away the ocean and sweep up the wood.
For nothing now can ever come to any good.

Horsham Churchyard: seu primogênito
(Frank Holl: pintor inglês)

Blues Fúnebres

Que parem os relógios, cale o telefone,
jogue-se ao cão um osso e ele não ladre mais,
que emudeça o piano e que o tambor sancione
a vinda do caixão com seu cortejo atrás.

Que os aviões, gemendo acima em alvoroço,
escrevam contra o céu o anúncio: ele morreu.
Que as pombas guardem luto – um laço no pescoço –
e os guardas usem finas luvas cor-de-breu.

Era meu norte, sul, meu leste, oeste, enquanto
viveu, meus dias úteis, meu fim-de-semana,
meu meio-dia, meia-noite, fala e canto;
quem julgue o amor eterno, como eu fiz, se engana.

É hora de apagar estrelas – são molestas –
guardar a lua, desmontar o sol brilhante,
de despejar o mar, jogar fora as florestas,
pois nada mais há de dar certo doravante.

Referência:

AUDEN, W. H. Funeral Blues / Blues fúnebres. ASCHER, Nelson (Tradução e Organização). Poesia alheia: 124 poemas traduzidos. Edição bilíngue. Rio de Janeiro, RJ: Imago, 1998. Em inglês: p. 128; em português: p. 129. (Coleção ‘Lazuli’)

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