Madraço, calaceiro, mandrião são vocábulos que, talvez, se diriam bem
mais alinhados com a origem lusitana do que com a brasileira do poeta parnasiano
luso-brasileiro Filinto de Almeida (n. Porto/m. Rio de Janeiro), haja vista que
não são muito ouvidos por estas paragens, ou se, empregados na virada dos
séculos XIX para o XX, saíram de voga com o passar dos anos.
A revelarem certa sinonímia, o poeta os associa à idade avançada, quando
a lassidão toma conta do corpo humano e qualquer atividade mais dinâmica é
capaz de levar à exaustão – até mesmo pela ação de pensar!
J.A.R. – H.C.
Filinto de Almeida
(1857-1945)
Cansaço
A velhice é
cansaço... E esse cansaço
não nos vem de
trabalho ou movimento...
O que ora faço é demorado
e lento
e acho mal feito o
pouco que ainda faço.
Tudo me cansa: até o
pensamento!
Já pouquíssimo ando e
arrasto o passo...
Quase sempre dorminte
ou sonolento,
vivo uma triste vida
de madraço.
Nunca fui mandrião
nem calaceiro,
nem também muito ativo,
é bem que o diga,
mas domei sempre a
inércia, sobranceiro.
Agora, a própria
inércia me castiga,
pois se acaso repouso
um dia inteiro
Esse mesmo repouso me
fatiga!
Velho Cansado
(Morteza Katouzian:
artista iraniano)
Referência:
ALMEIDA, Filinto de. Cansaço. In:
SANCHES NETO, Miguel (Org.). Os 100 melhores
sonetos clássicos da língua portuguesa. Belo Horizonte, MG: Editora
Leitura, 2008. p. 42.
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