Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Filinto de Almeida - Cansaço

Madraço, calaceiro, mandrião são vocábulos que, talvez, se diriam bem mais alinhados com a origem lusitana do que com a brasileira do poeta parnasiano luso-brasileiro Filinto de Almeida (n. Porto/m. Rio de Janeiro), haja vista que não são muito ouvidos por estas paragens, ou se, empregados na virada dos séculos XIX para o XX, saíram de voga com o passar dos anos.

A revelarem certa sinonímia, o poeta os associa à idade avançada, quando a lassidão toma conta do corpo humano e qualquer atividade mais dinâmica é capaz de levar à exaustão – até mesmo pela ação de pensar!

J.A.R. – H.C.

Filinto de Almeida
(1857-1945)

Cansaço

A velhice é cansaço... E esse cansaço
não nos vem de trabalho ou movimento...
O que ora faço é demorado e lento
e acho mal feito o pouco que ainda faço.

Tudo me cansa: até o pensamento!
Já pouquíssimo ando e arrasto o passo...
Quase sempre dorminte ou sonolento,
vivo uma triste vida de madraço.

Nunca fui mandrião nem calaceiro,
nem também muito ativo, é bem que o diga,
mas domei sempre a inércia, sobranceiro.

Agora, a própria inércia me castiga,
pois se acaso repouso um dia inteiro
Esse mesmo repouso me fatiga!

Velho Cansado
(Morteza Katouzian: artista iraniano)

Referência:

ALMEIDA, Filinto de. Cansaço. In: SANCHES NETO, Miguel (Org.). Os 100 melhores sonetos clássicos da língua portuguesa. Belo Horizonte, MG: Editora Leitura, 2008. p. 42.

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