Com uma representação mimética da realidade, Machado reflete nesta
canção – composta por três estrofes nas quais há uma progressão cronológica dos eventos –, sobre a passagem do tempo, as imagens da primavera, a casa, o ciclo
das flores e das duas irmãs que também desaparecem, depois de o enlevarem à
janela.
De um abril a outro, o poeta recorda com nostalgia a presença das irmãs,
e, nesse contexto, as imagens, que de início eram de inocência, frescor e
pujança, convertem-se, com o fluir das temporadas, em definhamento.
Nota-se na tradução de Bandeira uma espécie de recriação da
anáfora “Frente a mi ventana” do original de Machado, que se transforma em “Na
paisagem mansa” quando vertido ao português, de modo que o privilégio do foco visual
do eu poético resultou suprimido.
J.A.R. – H.C.
Antonio Machado
(1875-1939)
XXXXVIII
Abril florecía
frente a mi ventana.
Entre los jazmines
y las rosas blancas
de un balcón florido,
vi las dos hermanas.
La menor cosía,
la mayor hilaba...
Entre los jazmines
y las rosas blancas,
la más pequeñita,
risueña y rosada
– su aguja en el aire
–,
miró a mi ventana.
La mayor seguía
silenciosa y pálida,
el huso en su rueca
que el lino
enroscaba.
Abril florecía
frente a mi ventana.
Una clara tarde
la mayor lloraba,
entre los jazmines
y las rosas blancas,
y ante el blanco lino
que en su rueca
hilaba.
– ¿Qué tienes – le dije
–
silenciosa pálida?
Señaló el vestido
que empezó la
hermana.
En la negra túnica
la aguja brillaba;
sobre el velo blanco,
el dedal de plata.
Señaló a la tarde
de abril que soñaba,
mientras que se oía
tañer de campanas.
Y en la clara tarde
me enseñó sus
lágrimas...
Abril florecía
frente a mi ventana.
Fue otro abril alegre
y otra tarde plácida.
El balcón florido
solitario estaba...
Ni la pequeñita
risueña y rosada,
ni la hermana triste,
silenciosa y pálida,
ni la negra túnica,
ni la toca blanca...
Tan sólo en el huso
el lino giraba
por mano invisible,
y en la oscura sala
la luna del limpio
espejo brillaba...
Entre los jazmines
y las rosas blancas
del balcón florido,
me miré en la clara
luna del espejo
que lejos soñaba...
Abril florecía
frente a mi ventana.
En: “Canciones” (1907)
Duas Irmãs
(William-Adolphe
Bouguereau: pintor francês)
Canção
Abril florescia
Na paisagem mansa.
Entre os jasmineiros
E as roseiras brancas
Do balcão fronteiro
Vi as irmãs sentadas.
A menor cosia,
A maior fiava...
Entre os jasmineiros
E as roseiras
brancas,
A mais pequenina,
Risonha e rosada,
De agulha suspensa,
Sentiu que eu a
olhava.
A maior seguia,
Silenciosa e pálida,
O fuso na roca,
Que o fio enroscava.
Abril florescia
Na paisagem mansa.
Numa tarde clara
A maior chorava,
Entre os jasmineiros
E as roseiras
brancas,
Ante o branco linho
Que na roca fiava.
— Que tens?
perguntei-lhe.
Silenciosa e pálida,
Indicou o vestido
Que a irmã começara:
Na túnica negra
A agulha brilhava;
Sobre o véu luzia
A agulha de prata.
Apontou a tarde
De abril que sonhava:
Naquele momento
Os sinos dobravam.
E na tarde clara
Me ensinou suas
lágrimas...
Abril florescia
Na paisagem mansa.
Noutro abril alegre,
Noutra tarde clara,
O balcão florido
Solitário estava...
Nem a pequenina,
Risonha e rosada,
Tampouco a irmã
triste,
Silenciosa e pálida,
Nem a negra túnica,
Nem a touca branca...
Apenas no fuso
O linho girava
Por mão invisível;
E na obscura sala
A lua do límpido
Espelho brilhava...
Entre os jasmineiros
E as roseiras brancas
Do balcão florido,
Minha imagem dava
Na lua do espelho,
Que longe sonhava...
Abril florescia
Na paisagem mansa.
Em: “Canções” (1907)
Referências:
Em Espanhol
MACHADO, Antonio. XXXXVIII: Abril
florecía. In: __________. Antología
poética. Prólogo y notas de Joaquín Benito de Lucas. 10. ed. Madrid, ES:
Editorial Edaf, oct.2003. p. 71-73. (Biblioteca Edaf, v. 152)
Em Português
MACHADO, Antonio. Canção. Tradução de
Manuel Bandeira. In: BANDEIRA, Manuel. Poemas
traduzidos. 3. ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1956.
p. 35-37. (Coleção ‘Rubáiyát’)
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