Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 28 de agosto de 2016

Eugenio Montale - A um Jesuíta Moderno

Um cético poeta italiano alude, neste poema, a certo padre jesuíta francês, paleontólogo de formação, ninguém menos que Teilhard de Chardin, o qual, com sua iconoclasta obra, provocou consideráveis polêmicas no cerne da própria Igreja.

O poema está, como se observa, perpassado por fina ironia vertida contra as ideias da teologia evolutiva de Chardin, que não escaparia à crítica de Montale sobre a inadequação da linguagem antropomórfica empregada para se falar de Deus, ou de outro modo, de um Deus com características demasiado humanas.

J.A.R. – H.C.

Eugenio Montale
(1896-1981)

A un Gesuita Moderno

Paleontologo e prete, ad abundantiam
uomo di mondo, se vuoi farci credere
che un sentore di noi si stacchi dalla crosta
di quaggiù, meno crosta che paniccia,
per alloggiarsi poi nella noosfera
che avvolge le altre sfere o è in condominio
e sta nel tempo (!),
ti dirò che la pelle mi si aggriccia
quando ti ascolto. Il tempo non conclude
perchè non è neppure incominciato.
È neonato anche Dio. A noi di farlo
vivere o farne senza; a noi di uccidere
il tempo perchè in lui non è possibile
l'esistenza.

Teilhard de Chardin
(1881-1955)

A um Jesuíta Moderno

Paleontólogo e padre, ad abundantiam
homem do mundo, se queres fazer-nos crer
que um indício de nós se destaca da crosta
deste mundo, menos crosta que mingau,
para alojar-se depois na noosfera
que envolve as outras esferas ou com elas convive
imutável no tempo (!),
te digo que me arrepio todo
quando te ouço. O tempo nada termina
porque ele próprio nunca teve início.
Deus mesmo é recém-nascido. A nós cabe fazê-lo
viver ou viver sem ele; a nós matar
o tempo porque nele não é possível
a existência.

Referência:

MONTALE, Eugenio. A un gesuita moderno / A um jesuíta moderno. Tradução de Geraldo Holanda Cavalcanti. In: __________. Poesias. Edição bilíngue. Seleção, tradução e notas de Geraldo Holanda Cavalcanti. Prefácio de Luciana Stegagno Picchio. Rio de Janeiro, RJ: Record, 1997. Em italiano: p. 120; em português: p. 121.

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