Um cético poeta italiano alude, neste poema, a certo padre jesuíta
francês, paleontólogo de formação, ninguém menos que Teilhard de Chardin, o
qual, com sua iconoclasta obra, provocou consideráveis polêmicas no cerne da
própria Igreja.
O poema está, como se observa, perpassado por fina ironia vertida contra
as ideias da teologia evolutiva de Chardin, que não escaparia à crítica de
Montale sobre a inadequação da linguagem antropomórfica empregada para se falar
de Deus, ou de outro modo, de um Deus com características demasiado humanas.
J.A.R. – H.C.
Eugenio Montale
(1896-1981)
A un Gesuita Moderno
Paleontologo e prete,
ad abundantiam
uomo di mondo, se
vuoi farci credere
che un sentore di noi
si stacchi dalla crosta
di quaggiù, meno
crosta che paniccia,
per alloggiarsi poi
nella noosfera
che avvolge le altre
sfere o è in condominio
e sta nel tempo (!),
ti dirò che la pelle
mi si aggriccia
quando ti ascolto. Il
tempo non conclude
perchè non è neppure
incominciato.
È neonato anche Dio.
A noi di farlo
vivere o farne senza;
a noi di uccidere
il tempo perchè in
lui non è possibile
l'esistenza.
Teilhard de Chardin
(1881-1955)
A um Jesuíta Moderno
Paleontólogo e padre,
ad abundantiam
homem do mundo, se
queres fazer-nos crer
que um indício de nós
se destaca da crosta
deste mundo, menos
crosta que mingau,
para alojar-se depois
na noosfera
que envolve as outras
esferas ou com elas convive
imutável no tempo
(!),
te digo que me
arrepio todo
quando te ouço. O
tempo nada termina
porque ele próprio
nunca teve início.
Deus mesmo é
recém-nascido. A nós cabe fazê-lo
viver ou viver sem
ele; a nós matar
o tempo porque nele
não é possível
a existência.
Referência:
MONTALE, Eugenio. A un gesuita moderno /
A um jesuíta moderno. Tradução de Geraldo Holanda Cavalcanti. In: __________. Poesias.
Edição bilíngue. Seleção, tradução e notas de Geraldo Holanda Cavalcanti.
Prefácio de Luciana Stegagno Picchio. Rio de Janeiro, RJ: Record, 1997. Em
italiano: p. 120; em português: p. 121.
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