Tudo tem seu tempo e lugar: já anunciava o Eclesiastes na memória dos
tempos. Se uma orquídea temporã irrompe suas flores já no outono avançado, não
convergirá para si a mesma atenção que granjearia, caso houvesse desabrochado
em pleno verão.
O poeta então se pergunta quais os intentos de uma expressão de vida que
brotou fora de época, se, por acaso, não soprar uma brisa capaz de levar o
perfume da orquídea para próximo daqueles a quem, em última instância, ele se
orienta.
J.A.R. – H.C.
Li Bai
(701 d.C. - 762 d.C.)
A Orquídea Solitária
gu feng trinta e oito
Uma orquídea
solitária
desabrochou um dia
num jardim vazio,
rodeada de ervas e
tristeza.
Outrora a Primavera
tépida,
agora o Outono frio.
A geada embranquece a
terra,
murcham as folhas
verdes,
extingue-se a flor.
Se não soprar a brisa
quem aspirará as
résteas de perfume?
Orquídea Violeta
(Sharon Freeman:
artista norte-americana)
Referência:
BAI, Li. A orquídea solitária. In:
__________. Poemas de Li Bai.
Tradução, prefácio e notas de António Graça de Abreu. Macau (MO): Instituto
Cultural de Macau, 1990. p. 85.
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