O nome do lusitano Pedro António Correia Garção (1724-1772) se encontra
no rol dos grandes poetas da literatura em língua portuguesa. No excerto
abaixo, extraído de uma de suas sátiras, ele desdenha dos que julgam ser fácil
a vida de poeta.
Afirma ele que, se assim o fosse, qualquer um poderia levar ao prelo epopeias
e epopeias em frequência acelerada. Se tal ocorre, é porque se trata de um
charlatão, não de um poeta. E se, de fato, poeta, logo se verá o rigor do método
empregado e o tirocínio a sustentar o palácio da poesia.
J.A.R. – H.C.
Velhos Livros para Ler
(Frederick Spencer: pintor
norte-americano)
Ser Poeta não é coisa comũa
(Excerto da Sátira
III)
Ser Poeta não é coisa comũa, (*)
É dom divino que
gênio apoucado
Nunca pode alcançar
por mais que sua.
Mas este mesmo dom
sem ser guiado
Pelas regras da Arte,
ao precipício
Corre, como cavalo
desbocado.
Que julgas tu? Que a
Arte o seu princípio
Teve em subtis
caprichos? A Razão
É sobre que se firma
este edifício.
Oh, se não fosse
assim, um charlatão
Dentro em dois meses,
sem temor, ousara
Talvez dar Epopeias à
impressão.
Natureza-Morta com Livros
(Josef Jurutka:
artista húngaro)
Nota:
(*) Grafia no original que, suponho, a
julgar pelo sentido do verso, corresponda à palavra “comum” dos dias de hoje.
Referência:
GARÇÃO, Correia. Ser Poeta não é coisa
comua. In: __________. Obras completas.
Texto fixado, prefácio e notas de António José Saraiva. Vol. I: Poesia Lírica e
Satírica. Lisboa, PT: Livraria Sá da Costa Editora, 1957. Sátira III, p.
236-237. (“Coleção de Clássicos Sá da Costa”)
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