Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 23 de julho de 2016

Correia Garção - Ser Poeta não é coisa comum

O nome do lusitano Pedro António Correia Garção (1724-1772) se encontra no rol dos grandes poetas da literatura em língua portuguesa. No excerto abaixo, extraído de uma de suas sátiras, ele desdenha dos que julgam ser fácil a vida de poeta.

Afirma ele que, se assim o fosse, qualquer um poderia levar ao prelo epopeias e epopeias em frequência acelerada. Se tal ocorre, é porque se trata de um charlatão, não de um poeta. E se, de fato, poeta, logo se verá o rigor do método empregado e o tirocínio a sustentar o palácio da poesia.

J.A.R. – H.C.

Velhos Livros para Ler
(Frederick Spencer: pintor norte-americano)

Ser Poeta não é coisa comũa
(Excerto da Sátira III)

Ser Poeta não é coisa comũa, (*)
É dom divino que gênio apoucado
Nunca pode alcançar por mais que sua.

Mas este mesmo dom sem ser guiado
Pelas regras da Arte, ao precipício
Corre, como cavalo desbocado.

Que julgas tu? Que a Arte o seu princípio
Teve em subtis caprichos? A Razão
É sobre que se firma este edifício.

Oh, se não fosse assim, um charlatão
Dentro em dois meses, sem temor, ousara
Talvez dar Epopeias à impressão.

Natureza-Morta com Livros
(Josef Jurutka: artista húngaro)

Nota:

(*) Grafia no original que, suponho, a julgar pelo sentido do verso, corresponda à palavra “comum” dos dias de hoje.

Referência:

GARÇÃO, Correia. Ser Poeta não é coisa comua. In: __________. Obras completas. Texto fixado, prefácio e notas de António José Saraiva. Vol. I: Poesia Lírica e Satírica. Lisboa, PT: Livraria Sá da Costa Editora, 1957. Sátira III, p. 236-237. (“Coleção de Clássicos Sá da Costa”)

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