Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 27 de julho de 2016

John Keats - Do ‘Endymion’

Augusto de Campos, com o seu inigualável talento para selecionar e traduzir poemas, verteu ao português este excerto introdutório do Livro I de ‘Endymion’, do poeta romântico inglês John Keats, baseado no homônimo mito grego do pastor que caiu nas graças da deusa da lua Selene.

O poema aborda o poder da natureza para, com suas maravilhas, hipnotizar-nos e suprimir, volta e meia, toda a tristeza que, porventura, venha a nos assolar. Nele, distintamente da história original, segundo a qual Selene visita o adormecido Endymion todas as noites, é Endymion que expressa a sua afeição por Diana.

J.A.R. – H.C.

John Keats
(1795-1821)

From ‘Endymion’

A thing of beauty is a joy for ever:
Its loveliness increases; it will never
Pass into nothingness; but still will keep
A bower quiet for us, and a sleep
Full of sweet dreams, and health, and quiet breathing.
Therefore, on every morrow, are we wreathing
A flowery band to bind us to the earth,
Spite of despondence, of the inhuman dearth
Of noble natures, of the gloomy days,
Of all the unhealthy and o’er-darkened ways
Made for our searching: yes, in spite of all,
Some shape of beauty moves away the pall
From our dark spirits. Such the sun, the moon,
Trees old and young, sprouting a shady boon
For simple sheep; and such are daffodils
With the green world they live in; and clear rills
That for themselves a cooling covert make
’Gainst the hot season; the mid forest brake,
Rich with a sprinkling of fair musk-rose blooms:
And such too is the grandeur of the dooms
We have imagined for the mighty dead;
All lovely tales that we have heard or read:
An endless fountain of immortal drink,
Pouring unto us from the heaven’s brink.

Endymion e Selene
(Filippo Lauri: pintor italiano)

Do ‘Endymion’

O que é belo há de ser eternamente
Uma alegria, e há de seguir presente.
Não morre; onde quer que a vida breve
Nos leve, há de nos dar um sono leve,
Cheio de sonhos e de calmo alento.
Assim, cabe tecer cada momento
Nessa grinalda que nos entretece
À terra, apesar da pouca messe
De nobres naturezas, das agruras,
Das nossas tristes aflições escuras,
Das duras dores. Sim, ainda que rara,
Alguma forma de beleza aclara
As névoas da alma. O sol e a lua estão
Luzindo e há sempre uma árvore onde vão
Sombrear-se as ovelhas; cravos, cachos
De uvas num mundo verde; riachos
Que refrescam, e o bálsamo da aragem
Que ameniza o calor; musgo, folhagem,
Campos, aromas, flores, grãos, sementes,
E a grandeza do fim que aos imponentes
Mortos pensamos recobrir de glória,
E os contos encantados na memória:
Fonte sem fim dessa imortal bebida
Que vem dos céus e alenta a nossa vida.

Referência:

KEATS, John. From ‘Endymion’ / Do ‘Endymion’. Tradução de Augusto de Campos. In: CAMPOS, Augusto de. Byron e Keats: entreversos. Edição bilíngue. Traduções de Augusto de Campos. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2009. Em inglês: p. 168; em português: 169.

Nenhum comentário:

Postar um comentário