Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 9 de julho de 2016

Salvador Díaz Mirón - Às coisas sem alma

Com toda plasticidade e cromatismo na linguagem empregada, Mirón, poeta mexicano, alude neste soneto à ideia do poema como conexa às noções extraídas do mármore, do laurel e da estrela, enquanto representações, respectivamente, da estatuária – ofício que, de algum modo, orienta o labor do artista da palavra –, do arranjo dúctil das coroas apostas à cabeça pelos que alcançam a vitória e do grau de elevação a ser atingido pelas criações poéticas.

Sem descuidar do elogio à deslumbrante forma como Mirón constrói o seu soneto, não deixa de causar perplexidade, todavia, a aparente falta de lógica de seu último terceto: se Deus flutua sobre tudo o quanto existe no universo, seja esse “tudo”, como se imagina, coisas e seres, poder-se-ia indagar qual seria o “tudo o mais”, além disso, sobre o qual flutua a ideia! Ou será que a ideia conforma um domínio no universo, distinto daquele criado pelo Eterno?!...

J.A.R. – H.C.

Salvador Díaz Mirón
(1853-1928)

A las cosas sin alma

Cosas sin alma que os mostráis á ella
y la servís en muchedumbre tanta,
¡temblad! La móvil hora no adelanta
sin imprimiros destructora huella.

De la materia resistente y bella
tomad lo que más dura y más encanta;
si sois piedra, sed mármol; si sois plata,
sed laurel; si sois llama, sed estrella.

Mas no espereis la eternidad. El lodo
se disuelve en la onda que lo crea;
¡Dios y la idea, por diverso modo,

pueden sólo flotar en la marea
del objeto y del ser; Dios sobre todo,
y sobre todo lo demás la idea!

Tempestade no Mar da Galileia
(Rembrandt H. van Rijn: pintor holandês)

Às coisas sem alma

Coisas sem alma, que a ela vos
mostrais e servis em profusão tanta,
tremei! A móbil hora não avança
sem imprimir uma pegada destruidora.

Da matéria mais resistente e bela
tomai o que mais dura e mais encanta;
se sois pedra, sede mármore; se sois prata,
sede laurel. Se sois chama, sede estrela.

Mas não espereis pela eternidade. O lodo
se dissolve na onda que o cria.
Deus e a ideia, por modo distinto,

Podem somente flutuar na maré
do objeto e do ser. Deus sobre tudo,
e sobre tudo o mais, a ideia!

Referência:

MIRÓN, Salvador Díaz. A las cosas sin alma. In: ARDUZ, J. C. Iván Canelas (Ed.). Antología de la poesía universal. Tomo III. América 2. Oruro, BO: Latinas, 1996. p. 30-31.

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