O poeta português, neste poema de quadras rimadas, refere-se ao
escritor e jornalista argentino Leopoldo Lugones, que cometeu suicídio
ingerindo uma dose hiperbólica de cianureto.
Há no poema duas singulares menções: (i) ‘in vino veritas’, trecho da
expressão latina ‘in vino veritas, in aqua sanitas’ ou ‘no vinho a verdade, na
água a saúde’, cuja autoria atribui-se a Plínio, o Velho; e (ii) ‘farol glacial
do inverno’ ou ‘farol glacial del invierno’ no original contido em ‘El Sol de Media Noche’, do autor argentino.
Em relação à primeira alusão, associa-se ao consabido fato de que ao se
ingerir bebidas alcoólicas, quase sempre se experimenta uma sensação de
libertação em relação aos freios éticos, de forma a deixar o espírito fluir na ‘verdade’
dos mais íntimos sentimentos ocultados no coração humano.
Quanto ao verso redigido por Lugones, quando associado à totalidade do
poema ao qual pertence (vide endereço acima), permite entrever a prodigalidade
das rimas algo excêntricas por ele empregadas, as quais, em outras de suas
criações, tornam-se vezes sem conta multilíngues, misturando, v.g., o inglês, o
espanhol e o latim – como no caso do excerto do provérbio citado por Júdice.
J.A.R. – H.C.
Nuno Júdice
(n. 1949)
Lugones
Só a poesia inspira a
poesia,
como in vino veritas;
se a metáfora varia
as imagens são
pretéritas.
O poeta ilude a hora,
o dicionário fica
inconcluso.
Mas tudo o que se
ignora
deixa o homem
confuso.
Celebrava os pombais
que lhe nasciam no
peito,
tão fortes como os
ais
que o tornavam
suspeito.
“Farol glacial do
inverno”,
neste poema em que o
meto
quis fugir do inferno
com um copo de
cianeto.
Em: “Meditação sobre ruínas” (1995)
Leopoldo Lugones
(1874-1938)
Referência:
JÚDICE, Nuno. Lugones. In: COSTA E
SILVA, Alberto da; BUENO, Alexei (Orgs.). Antologia
da poesia portuguesa conteporânea: um panorama. Rio de Janeiro, RJ:
Lacerda, 1999. p. 406.
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