Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Murilo Mendes - Embarque do papagaio real

Murilo Mendes lança mão da mais genuína troça para conceber este poema, no qual um hipotético papagaio que existiria na esquadra lusitana que fugiu de Portugal, invadido pelas tropas de Napoleão, nos conta parte do enredo da história envolvendo D. João VI.

Juntamente ao efeito cômico, jocoso, que o poema busca empreender, sobressai o impacto das onomatopeias empregadas, com a repetição dos cacarejos das galinhas d’Angola ou de palavras ao embalo da letra de cantiga francesa parcialmente vertida ao português.

J.A.R. – H.C.

Murilo Mendes
(1901-1975)

Embarque do papagaio real

Je suis pobre, pobre, pobre,
Je m’en vais d’aqui.
Esse tal de Napoleão
Vem tomar conta da minha quinta,
Vem tomar minhas pipas de vinho,
Vem tomar meus p’rus,
Meus frangos,
Minhas galinhas d’Angola.
Tô fraco, tô fraco, tô fraco.

Vou-me embora, vou-me embora,
Vou chupar laranjas,
Vou comer minhas papas,
Vou gozar no Rio de pijama...
Se Carlota minha mulher deixar.

Em: “História do Brasil” (1932)

Papagaio
(Satish Verma: artista indiano)

Referência:

MENDES, Murilo. Embarque do papagaio real. In: __________. Poesia e prosa completa. Organização de Luciana Stegagno Picchio. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. p. 159.

Nenhum comentário:

Postar um comentário