Murilo Mendes lança mão da mais genuína troça para conceber este poema,
no qual um hipotético papagaio que existiria na esquadra lusitana que fugiu de
Portugal, invadido pelas tropas de Napoleão, nos conta parte do enredo da
história envolvendo D. João VI.
Juntamente ao efeito cômico, jocoso, que o poema busca empreender, sobressai
o impacto das onomatopeias empregadas, com a repetição dos cacarejos das
galinhas d’Angola ou de palavras ao embalo da letra de cantiga francesa parcialmente
vertida ao português.
J.A.R. – H.C.
Murilo Mendes
(1901-1975)
Embarque do papagaio real
Je suis pobre, pobre,
pobre,
Je m’en vais d’aqui.
Esse tal de Napoleão
Vem tomar conta da
minha quinta,
Vem tomar minhas
pipas de vinho,
Vem tomar meus p’rus,
Meus frangos,
Minhas galinhas
d’Angola.
Tô fraco, tô fraco,
tô fraco.
Vou-me embora, vou-me
embora,
Vou chupar laranjas,
Vou comer minhas
papas,
Vou gozar no Rio de
pijama...
Se Carlota minha
mulher deixar.
Em: “História do Brasil” (1932)
Papagaio
(Satish Verma:
artista indiano)
Referência:
MENDES, Murilo. Embarque do papagaio
real. In: __________. Poesia e prosa
completa. Organização de Luciana Stegagno Picchio. Rio de Janeiro: Nova
Aguilar, 1994. p. 159.
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