Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 2 de julho de 2016

William Shakespeare - Soneto XVIII

Este soneto de Shakespeare – aqui apresentado em duas traduções à “última flor do Lácio” –, talvez seja o mais popularizado e benquisto de todos os seus 154 sonetos. Com linguagem menos intricada, ele enaltece a constância do amor e os seus propósitos.

Verifica-se um destinatário masculino nas traduções ao português – e tal não representa um equívoco: os estudiosos do bardo afirmam que grande parte dos seus sonetos revela o seu apreço e interesse por um jovem. E a pretensão de Shakespeare é a de que a juventude e a beleza do amado, em pleno verão da vida, mantenha-se ‘ad eternum’, nem que seja pelo poder da palavra: “Enquanto o homem respire, e os olhos possam ver, / Meu canto existirá, e nele hás de viver”.

J.A.R. – H.C.

William Shakespeare
(1564-1616)

XVIII

Shall I compare thee to a summer’s day?
Thou art more lovely and more temperate:
Rough winds do shake the darling buds of May,
And Summer’s lease hath all too short a date:
Sometime too hot the eye of heaven shines,
And often is his gold complexion dimm’d,
And every fair from fair sometime declines,
By chance, or nature’s changing course untrimm’d:
But thy eternal summer shall not fade,
Nor lose possession of that fair thou ow’st,
Nor shall Death brag thou wander’st in his shade,
When in eternal lines to time thou grow’st:
So long as men can breathe or eyes can see,
So long lives this, and this gives life to thee.

Almoço no restaurante Fournaise
(Pierre-Auguste Renoir: pintor francês)

XVIII
A um dia de verão como hei de comparar-te?
Vencendo-o em equilíbrio, és sempre mais amável:
Em maio o vendaval ternos botões disparte,
E o estio se consome em prazo não durável;
Às vezes, muito quente, o olho do céu fulgura,
Outras vezes se ofusca a sua tez dourada;
Decai da formosura, é certo, a formosura,
Pelo tempo ou o acaso enfim desadornada:
Mas teu verão é eterno, e não desmaiará,
Nem hás de a possessão perder de tuas galas;
Vagando em sua sombra o Fim não te verá,
Pois neste verso eterno ao tempo tu te igualas:
Enquanto o homem respire, e os olhos possam ver,
Meu canto existirá, e nele hás de viver.

(Tradução de Espólio de Péricles Eugênio
da Silva Ramos)

Pintor na Estrada para Tarascon
(Vincent van Gogh: pintor holandês)

XVIII

Poderei comparar-te, acaso, a um dia estivo?
Mais agradável és, porque és mais moderado.
Caem os lindos botões de maio, ao vento esquivo,
E o tempo do verão é muito limitado.
Alguma vez, o olhar do céu mui quente brilha;
Outras, o resplendor dourado se lhe embaça;
E, casualmente, ou por mudar a vária trilha,
A Natureza perde a sua imensa graça.
Mas não murchará nunca o teu verão eterno,
Nem perderá jamais os encantos ingentes,
Nem morrerá, tampouco, o teu garbo superno,
Se afrontares a morte em meus versos veementes.
Enquanto existir mundo ou o olhar puder ver,
Meus versos viverão e hás de neles viver.

(Tradução de Jerônimo de Aquino)

Referências:

SHAKESPEARE, William. Sonnet XVIII / Soneto XVIII. Tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos. In: __________. Sonetos. Tradução e introdução de Péricles Eugênio da Silva Ramos. Edição bilíngue. São Paulo, SP: Hedra, 2008. Em inglês: p. 48; em português: p. 49.

SHAKESPEARE, William. Soneto XVIII. Tradução de Jerônimo de Aquino. In: __________. Sonetos. Tradução de Jerônimo de Aquino. São Paulo, SP: Martin Claret, 2006. p. 44. (Coleção “A obra-prima de cada autor”; v. 249)

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