Claudio Willer, considerando um dos melhores tradutores da obra de
Ginsberg ao português, apresenta esta versão de “On Burrough’s Work” (“Sobre a
Obra de Burroughs”), quer em em seu próprio blog, quer em “Uivo,
Kaddish e Outros Poemas”, versão pátria com vários poemas de “Howl and other
poems” (1956) (“Uivo e outros poemas), “Kaddish and other poems” (1961) (“Kaddish
e outros poemas”) e “Reality Sandwiches and other poems” (1963) (“Sanduíches de
Realidade e outros poemas”).
O poema, aparentemente, tece críticas às formas tradicionais de expressão
literária, que acabam por obscurecer a verdade, ácida que seja, a ser levada ao
público, por meio de linguagem retocada e airosa, quando uma linguagem mais
direta – nua e crua –, na visão do autor, seria mais eficaz para expor a “loucura”
da realidade.
J.A.R. – H.C.
Allen Ginsberg
(1926-1997)
On Burroughs’
Work
The method must be purest meat
and no symbolic dressing,
actual visions & actual prisons
as seen then and now.
Prisons and visions presented
with rare descriptions
corresponding exactly
to those
of Alcatraz and Rose.
A naked lunch is natural to us,
we eat reality sandwiches.
But allegories are so much lettuce.
Don’t hide the madness.
San Jose, 1954
Alcatraz
(Ryan Connolly: artista
norte-americano)
Sobre a Obra de Burroughs
O método deve ser a
mais pura carne
e nada de molho
simbólico,
verdadeiras visões
& verdadeiras prisões
assim como vistas vez
por outra.
Prisões e visões
mostradas
com raros relatos
crus
correspondendo
exatamente àqueles
de Alcatraz e Rose.
Um lanche nu nos é
natural,
comemos sanduíches de
realidade.
Porém alegorias não
passam de alface.
Não escondam a
loucura.
San Jose, 1954
Notas do Tradutor (WILLER, 2010, p. 207):
1. raros
relatos crus – a dupla tradução: no original, with rare descriptions. Rare é raro, diferente, especial, mas
também cru, malpassado, em rare done meat. Crus
faz um par com nu, dando nu e cru, expressão que significa
verdadeiro, realístico, acentuando o sentido do poema.
2. um
lanche nu – Este poema foi escrito na Califórnia em 1954, enquanto Ginsberg
ia recebendo por carta, de Tanger, trechos do que Burroughs denominava de routines, narrativas que, remontadas,
viriam a compor Naked Lunch,
terminada em Paris quatro anos mais tarde. O sanduíche da linha seguinte leva a
concluir que a tradução adequada desse título para o português é mesmo Lanche Nu, e não Almoço Nu, apesar de lunch,
em inglês, significar almoço, tanto quanto refeição leve. Ginsberg gostou da
metáfora ‘sanduíches de realidade’, ‘reality sandwiches’ e a usou como título
de seu terceiro livro de poemas.
Referências:
Em Inglês
GINSBERG, Allen. On Burroughs’ work. In: __________. Reality sandwiches: 1953-1960. 26th
Printing. San Francisco, CA: City Light Books, jun.2005. p. 40. (“The Pocket
Poets Series”; n. 18)
Em Português
GINSBERG, Allen. Sobre a obra de Burroughs. In: __________. Uivo, kaddish e outros poemas.
Tradução, seleção e notas de Claudio Willer. 2. ed. Porto Alegre, RS: L&PM,
2010. p. 207.
GINSBERG, Allen. Sobre a obra de Burroughs.
Tradução de Claudio Willer. Disponível neste
endereço. Acesso em: 2 jun. 2016.
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