Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 19 de julho de 2016

Allen Ginsberg - Sobre a obra de Burroughs

Claudio Willer, considerando um dos melhores tradutores da obra de Ginsberg ao português, apresenta esta versão de “On Burrough’s Work” (“Sobre a Obra de Burroughs”), quer em em seu próprio blog, quer em “Uivo, Kaddish e Outros Poemas”, versão pátria com vários poemas de “Howl and other poems” (1956) (“Uivo e outros poemas), “Kaddish and other poems” (1961) (“Kaddish e outros poemas”) e “Reality Sandwiches and other poems” (1963) (“Sanduíches de Realidade e outros poemas”).

O poema, aparentemente, tece críticas às formas tradicionais de expressão literária, que acabam por obscurecer a verdade, ácida que seja, a ser levada ao público, por meio de linguagem retocada e airosa, quando uma linguagem mais direta – nua e crua –, na visão do autor, seria mais eficaz para expor a “loucura” da realidade.

J.A.R. – H.C.

Allen Ginsberg
(1926-1997)

On Burroughs’ Work

The method must be purest meat
and no symbolic dressing,
actual visions & actual prisons
as seen then and now.

Prisons and visions presented
with rare descriptions
corresponding exactly to those
of Alcatraz and Rose.

A naked lunch is natural to us,
we eat reality sandwiches.
But allegories are so much lettuce.
Don’t hide the madness.

San Jose, 1954 

Alcatraz
(Ryan Connolly: artista norte-americano) 

Sobre a Obra de Burroughs

O método deve ser a mais pura carne
e nada de molho simbólico,
verdadeiras visões & verdadeiras prisões
assim como vistas vez por outra.

Prisões e visões mostradas
com raros relatos crus
correspondendo exatamente àqueles
de Alcatraz e Rose.

Um lanche nu nos é natural,
comemos sanduíches de realidade.
Porém alegorias não passam de alface.
Não escondam a loucura.

San Jose, 1954

Notas do Tradutor (WILLER, 2010, p. 207):

1. raros relatos crus – a dupla tradução: no original, with rare descriptions. Rare é raro, diferente, especial, mas também cru, malpassado, em rare done meat. Crus faz um par com nu, dando nu e cru, expressão que significa verdadeiro, realístico, acentuando o sentido do poema.

2. um lanche nu – Este poema foi escrito na Califórnia em 1954, enquanto Ginsberg ia recebendo por carta, de Tanger, trechos do que Burroughs denominava de routines, narrativas que, remontadas, viriam a compor Naked Lunch, terminada em Paris quatro anos mais tarde. O sanduíche da linha seguinte leva a concluir que a tradução adequada desse título para o português é mesmo Lanche Nu, e não Almoço Nu, apesar de lunch, em inglês, significar almoço, tanto quanto refeição leve. Ginsberg gostou da metáfora ‘sanduíches de realidade’, ‘reality sandwiches’ e a usou como título de seu terceiro livro de poemas.

Referências:

Em Inglês

GINSBERG, Allen. On Burroughs’ work. In: __________. Reality sandwiches: 1953-1960. 26th Printing. San Francisco, CA: City Light Books, jun.2005. p. 40. (“The Pocket Poets Series”; n. 18)

Em Português

GINSBERG, Allen. Sobre a obra de Burroughs. In: __________. Uivo, kaddish e outros poemas. Tradução, seleção e notas de Claudio Willer. 2. ed. Porto Alegre, RS: L&PM, 2010. p. 207.

GINSBERG, Allen. Sobre a obra de Burroughs. Tradução de Claudio Willer. Disponível neste endereço. Acesso em: 2 jun. 2016.

Nenhum comentário:

Postar um comentário