Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Galway Kinnell - Quantas noites

O poeta escreve sobre as noites de terror, reais ou, mais provavelmente, imaginárias, depois das quais o cenário que presencia ganha contornos edgardianos: animais hibernando, a aguardar o advento da primavera.

Pousado mais à frente, num galho antes silencioso da árvore a representar a própria consciência do poeta, há um corvo a crocitar. Um corvo, quem sabe, a expandir a compreensão da finitude de todas as coisas e do ciclo renovador da natureza.

J.A.R. – H.C.

Galway Kinnell
(1927-2014)

How many nights

How many nights
have I lain in terror,
O Creator Spirit, maker of night and day,

only to walk out
the next morning over the frozen world,
hearing under the creaking snow
faint, peaceful breaths...
snake,
bear, earthworm, ant...

and above me
a wild crow crying ‘yaw, yaw, yaw’
from a branch nothing cried from ever in my life.

Corvo
(Denise Laurent: pintora canalina)

Quantas noites

Ó espírito Criador, que fizeste
o sol e as estrelas,
quantas noites o terror
não me prostrou na cama

e na manhã seguinte
caminhei pelo mundo gelado
ouvindo respirações calmas
sob o crepitar da neve...
serpente,
urso, minhoca, formiga...
e sobre mim
o crocitar de um corvo
pousado no galho antes silente
de toda a minha vida.

Referência:

KINNELL, Galway. How many nights / Quantas noites. Tradução de Lêdo Ivo. In: KEYS, Kerry Shawn. Quingumbo. New North American Poetry / Nova Poesia Norte-Americana. Antologia bilíngue. São Paulo, SP: Escrita, 1980. Em inglês: p. 150; em português: p. 151.

Nenhum comentário:

Postar um comentário