Londres à noite, para Blake, não promete mais do que a maldição das
rameiras e o desespero estampado no rosto das pessoas, informe-se, nas
imediações do espaço urbano da capital inglesa por demais frequentado, hoje em
dia, por levas de turistas: o Tâmisa.
O poema é atravessado por referentes sonoros – gritos, maldições, vozes,
suspiros –, e isso nos permite associar o panorama londrino a um núcleo urbano
em transformação acelerada, com as suas consequentes mazelas, no âmbito da
revolução industrial então em curso.
J.A.R. – H.C.
William Blake
(1757-1827)
London
I wander thro’ each charter’d street
Near where the charter’d Thames does flow,
And mark in every face I meet
Marks of weakness, marks of woe.
In every cry of every Man,
In every Infant’s cry of fear,
In every voice, in every ban,
The mind-forg’d manacles I hear:
How the Chimney-sweeper’s cry
Every black’ning Church appalls,
And the hapless Soldier’s sigh
Runs in blood down Palace walls;
But most thro’ midnight streets I hear
How the youthful Harlot’s curse
Blasts the new-born Infant’s tear,
And blights with plagues the Marriage hearse.
Londres à Noite
(George Rossidis: pintor grego)
Londres
Em cada rua
escriturada em que ando,
Onde o Tâmisa
escriturado passa,
Eu nos rostos que
encontro vou notando
Os sinais da doença e
da desgraça.
Ouço nos gritos que
os adultos dão,
E nos gritos de medo
do inocente,
Em cada voz, em cada
interdição,
As algemas forjadas
pela mente
Se o Limpa-Chaminés
acaso grita,
Assusta a Igreja
escura pelos anos;
Se o Soldado suspira
de desdita,
O sangue mancha os
muros palacianos.
Mas o que mais à meia
noite é ouvido
É a rameira a lançar
praga fatal,
Que estanca o pranto
do recém-nascido
E empesteia a
mortalha conjugal.
Referência:
BLAKE, William. Londres. Tradução de
Paulo Vizioli. In: __________. William
Blake: poesia e prosa selecionadas. Edição bilíngue. Introdução, seleção e
tradução de Paulo Vizioli. São Paulo, SP: Nova Alexandria, 1993. Em inglês: p.
62; em português: p. 63.
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