Um soneto cujo tema é o próprio soneto: um metassoneto! E quem o concebe
é um clássico da fase simbolista da literatura brasileira, ou seja, Cruz e
Sousa, vate que o empregou na maior parte das obras que legou à posteridade.
Há, segundo o autor, morbidez, voluptuosidade e extravagância nas formas
do soneto que, muito a despeito, revela também beleza e capricho sob os seus
contornos de vetusta púrpura, por onde circulam os sonhos de almas dolorosas,
como, presume-se, a do próprio poeta!
J.A.R. – H.C.
Cruz e Sousa
(1861-1898)
O Soneto
Nas formas
voluptuosas o Soneto
Tem fascinante,
cálida fragrância
E as leves, langues
curvas de elegância
De extravagante e
mórbido esqueleto.
A graça nobre e grave
do quarteto
Recebe a original
intolerância,
Toda a subtil,
secreta extravagância
Que transborda
terceto por terceto.
E como um singular polichinelo
Ondula, ondeia,
curioso e belo.
O Soneto, nas formas
caprichosas.
As rimas dão-lhe a púrpura
vetusta
E na mais rara
procissão augusta
Surge o sonho das
almas dolorosas.
Poesia
(Gustave C. R.
Boulanger: pintor francês)
Referência:
SOUSA, Cruz e. O soneto. In:
__________. Últimos sonetos. Paris, FR: Typ. Aillaud & Cia., 1905. p. 83-84.
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