Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 30 de julho de 2016

Jorge de Lima - Não procureis qualquer nexo naquilo

Se o poeta é um fingidor, como sustenta Pessoa, tem sentido o que o autor alagoano Jorge de Lima sugere, ao alertar-nos para que não procuremos nexo naquilo que os vates pronunciam acordados.

Temos, então, fingimentos desconexos que, por mais paradoxais que sejam, conformam a “fala de Deus” saída do peito daqueles renegados (e antenados!) seres, perpassados pelas dores do mundo.

J.A.R. – H.C.

Jorge de Lima
(1893-1953)

Não procureis qualquer nexo naquilo

Não procureis qualquer nexo naquilo
que os poetas pronunciam acordados,
pois eles vivem no âmbito intranquilo
em que se agitam seres ignorados.

No meio de desertos habitados
só eles é que entendem o sigilo
dos que no mundo vivem sem asilo
parecendo com eles renegados.

Eles possuem, porém, milhões de antenas
distribuídas por todos os seus poros
aonde aportam do mundo suas penas.

São os que gritam quando tudo cala,
são os que vibram de si estranhos coros
para a fala de Deus que é sua fala.

Em: “Livro dos Sonetos” (1949)

Cruzando o Deserto
(Charles-Théodore Frère: pintor francês)

Referência:

LIMA, Jorge de. Não procureis qualquer nexo naquilo. In: __________. Antologia poética. Seleção e posfácio de Fábio de Souza Andrade. São Paulo, SP: Cosac Naify, 2014. p. 163.

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