WCW nos propõe um poema com estrutura pouco convencional e com uma
palavra nada usual para a grande maioria dos leitores – “saxífraga” – espécie
botânica cujo nome, literalmente, significa “quebra-pedra”, sendo, por isso
mesmo, empregada em chás terapêuticos para o tratamento de cálculos renais.
Afirma ele que a sua flor é saxífraga, capaz, portanto, de irromper
entre rochas: trata-se, como informa, de metáfora para a suposta conexão entre
a escrita – ou o processo criativo – e a natureza. Ou, como se propõe, o poeta
como uma cobra que espera calma e pacientemente, à margem das sendas, pelo
momento oportuno de partir para o ataque, isto é, de confrontar a linguagem
quando a sua imaginação é provocada.
J.A.R. – H.C.
William Carlos Williams
(1883-1963)
A sort of a
song
Let the snake wait under
his weed
and the writing
be of words, slow and quick, sharp
to strike, quiet to wait,
sleepless.
− through metaphor to reconcile
the people and the stones.
Compose. (No ideas
but in things) Invent!
Saxifrage is my flower that splits
the rocks.
In: “The Wedge” (1944)
Flor rósea e rochas
Uma espécie de canção
Que a cobra fique à
espera sob
suas ervas daninhas
e que a escrita se
faça
de palavras, lentas e
prontas, rápidas
no ataque, quietas na
tocaia,
sem jamais dormir.
– pela metáfora
reconciliar
as pessoas e as
pedras.
Compor (Ideias
só nas coisas)
Inventar!
Saxífraga é a minha
flor que fende
as rochas.
Em: “A Cunha” (1944)
Referência:
WILLIAMS, William Carlos. Uma espécie de canção. Tradução de José
Paulo Paes. In: __________. Poemas. Seleção, tradução e estudo crítico de José Paulo Paes. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 1987. Em inglês: p. 150; em português: p. 151.
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