Em breve reflexão durante o experimentado período de insônia, Sancho
Pança pondera sobre quem seria o mais louco dos dois: se ele, que persiste em
amparar um insano, ou o seu amo, o próprio Dom Quixote?!
Sublinhe-se que a poesia desta postagem pertence ao ciclo de poemas
criado por Drummond sobre telas pintadas por Portinari, dentre as quais
sobressai a que mais abaixo reproduzimos.
J.A.R. – H.C.
Carlos Drummond de Andrade
(1902-1987)
Disquisição na Insônia
Que é loucura: ser
cavaleiro andante
ou segui-lo como
escudeiro?
De nós dois, quem o
louco verdadeiro?
O que, acordado,
sonha doidamente?
O que, mesmo vendado,
vê o real e segue o
sonho
de um doido pelas
bruxas embruxado?
Eis-me, talvez, o
único maluco,
e me sabendo tal, sem
grão de siso,
sou – que doideira –
um louco de juízo.
Dom Quixote e Sancho Pança
(Cândido Portinari:
pintor brasileiro)
Referência:
ANDRADE, Carlos Drummond. Disquisição na insônia. In: __________.
As impurezas do branco. 6. ed. Rio de Janeiro, RJ: Record, 1993. p. 73-74.
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