Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 5 de julho de 2016

Olavo Bilac - A um poeta

Como se fosse um beneditino, enclausurado em sua ordem monástica, Bilac enxerga o poeta como um artífice de poemas nos quais a forma há de disfarçar todo o esforço que tenha sido empregado para conceber a mais pura poesia.

Ao correlacionar diretamente Beleza e Verdade no conteúdo do último terceto de seu soneto, o autor parnasiano reassume a mesma conexão que William Blake e Emily Dickinson forjaram em poemas distintos, objeto de comento desta postagem.

J.A.R. – H.C.

Olavo Bilac
(1865-1918)

A um poeta

Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino, escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!

Mas que na forma de disfarce o emprego
Do esforço; e a trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua,
Rica mas sóbria, como um templo grego.

Não se mostre na fábrica o suplício
Do mestre. E, natural, o efeito agrade,
Sem lembrar os andaimes do edifício:

Porque a Beleza, gêmea da Verdade,
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.

(Em: “Tarde”, 1918)

Homem a escrever uma carta
(Gabriël Metsu: pintor holandês)

Referência:

BILAC, Olavo. A um poeta. In: BARBOSA, Frederico (Org.). Cinco séculos de poesia: antologia da poesia clássica brasileira. 4. ed. São Paulo, SP: Aquariana, 2011. p. 279.

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