Como se fosse um beneditino, enclausurado em sua ordem monástica, Bilac
enxerga o poeta como um artífice de poemas nos quais a forma há de disfarçar
todo o esforço que tenha sido empregado para conceber a mais pura poesia.
Ao correlacionar diretamente Beleza e Verdade no conteúdo do último
terceto de seu soneto, o autor parnasiano reassume a mesma conexão que William
Blake e Emily Dickinson forjaram em poemas distintos, objeto de comento desta postagem.
J.A.R. – H.C.
Olavo Bilac
(1865-1918)
A um poeta
Longe do estéril
turbilhão da rua,
Beneditino, escreve!
No aconchego
Do claustro, na
paciência e no sossego,
Trabalha, e teima, e
lima, e sofre, e sua!
Mas que na forma de
disfarce o emprego
Do esforço; e a trama
viva se construa
De tal modo, que a
imagem fique nua,
Rica mas sóbria, como
um templo grego.
Não se mostre na
fábrica o suplício
Do mestre. E,
natural, o efeito agrade,
Sem lembrar os
andaimes do edifício:
Porque a Beleza,
gêmea da Verdade,
Arte pura, inimiga do
artifício,
É a força e a graça
na simplicidade.
(Em: “Tarde”, 1918)
Homem a escrever uma carta
(Gabriël Metsu: pintor
holandês)
Referência:
BILAC, Olavo. A um poeta. In: BARBOSA,
Frederico (Org.). Cinco séculos de
poesia: antologia da poesia clássica brasileira. 4. ed. São Paulo, SP:
Aquariana, 2011. p. 279.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário