Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Jacques Dupin - Excesso da poesia

Com um modo muito peculiar de se expressar, o francês Dupin teoriza sobre a sua própria arte – a poesia –, que a julgar pelos argumentos apresentados, cinge-se dominantemente à forma do poema, seja ela qual for.

Informe-se, por conveniente, que há lastro especializado o bastante em Dupin para discorrer sobre o tema. Ele também foi autor de numerosos ensaios sobre artistas modernos e contemporâneos, como Braque, Kandisky, Laurens e muitos outros, assim como de estudos pessoais e bastante perceptivos sobre a arte de Miró e Giacometti.

J.A.R. – H.C.

Jacques Dupin
(1927-2012)

Démesure de la poésie

Le poème est ce qui n’a ni nom, ni repos, ni lieu, ni demeure : fissure à l’oeuvre se mouvant. Inutile de le circonscrire hors de paysages connus dans quelque zone aux pensées interdite, horizon d’antinature ou alors achevé au terme de son dépassement. Il hante notre espace car il est notre temps. Insaisissable en chacune de ses figures qui ne surgit que pour lier sa tendance naissante à d’imprévisibles successions, le poème sécrète sa propre histoire comme l’avion traceur ses spirales irréductibles dans leur lecture linéaire à ce que fut dans l’azur ce point blanc. Prenant appui sur l’explosion étoilée du langage, ressassant l’amorce naissante de l’événement, sortant le geste de ses fonctionnels usages, le coupant de ses thématiques intentions, le poème fait qu’après lui l’homme foudroyé demande aux pages l’abri et le repos d’une histoire, le modèle entrevu parfait de la pierre bleue sur un visage, l’impossible clef. Sans rémission.

Livro Azul
(Sharon McCarthy: pintora norte-americana)

Excesso da poesia

O poema é aquilo que não tem nome, nem repouso, nem lugar, nem lar: fissura que se move em direção à obra. Inútil circunscrevê-lo para além de paisagens conhecidas, rumo a alguma zona interditada aos pensamentos, horizonte da antinatureza ou então depois de finda a sua transposição. Assombra o nosso espaço, pois ele é o nosso tempo. Inapreensível em cada uma de suas figuras, que surgem apenas para vincular a sua tendência ascendente à de imprevisíveis sucessões, o poema secreta a sua própria história tal como o aeroplano traça irredutíveis espirais em sua leitura linear para o que migra do azul a um ponto branco. Apoiando-se sobre a explosão estrelada da linguagem, ruminando a aflorante isca do evento, apartando o gesto de seus usos funcionais, de forma a desconectá-lo de suas intenções temáticas, o poema faz com que alguém por ele surpreendido peça às suas páginas o abrigo e o descanso de uma história, o modelo perfeito, apenas vislumbrado, da pedra azul sobre um rosto, a impossível chave. Sem remissão.

Referência:

DUPIN, Jacques. Démesure de la poésie. In: CAWS, Mary Ann (Ed.). The Yale anthology of twentieth-century french poetry. English and French on facing pages. New Haven, CT: Yale University Press, 2004. p. 390.

Nenhum comentário:

Postar um comentário