Com um modo muito peculiar de se expressar, o francês Dupin teoriza
sobre a sua própria arte – a poesia –, que a julgar pelos argumentos
apresentados, cinge-se dominantemente à forma do poema, seja ela qual for.
Informe-se, por conveniente, que há lastro especializado o bastante em
Dupin para discorrer sobre o tema. Ele também foi autor de numerosos ensaios
sobre artistas modernos e contemporâneos, como Braque, Kandisky, Laurens e
muitos outros, assim como de estudos pessoais e bastante perceptivos sobre a
arte de Miró e Giacometti.
J.A.R. – H.C.
Jacques Dupin
(1927-2012)
Démesure de la poésie
Le poème est ce qui
n’a ni nom, ni repos, ni lieu, ni demeure : fissure à l’oeuvre se mouvant.
Inutile de le circonscrire hors de paysages connus dans quelque zone aux
pensées interdite, horizon d’antinature ou alors achevé au terme de son dépassement.
Il hante notre espace car il est notre temps.
Insaisissable en chacune de ses figures qui ne surgit que pour lier sa tendance
naissante à d’imprévisibles successions, le poème sécrète sa propre histoire
comme l’avion traceur ses spirales irréductibles dans leur lecture linéaire à
ce que fut dans l’azur ce point blanc. Prenant appui sur l’explosion étoilée du
langage, ressassant l’amorce naissante de l’événement, sortant le geste de ses
fonctionnels usages, le coupant de ses thématiques intentions, le poème fait
qu’après lui l’homme foudroyé demande aux pages l’abri et le repos d’une
histoire, le modèle entrevu parfait de la pierre bleue sur un visage,
l’impossible clef. Sans rémission.
Livro Azul
(Sharon McCarthy:
pintora norte-americana)
Excesso da poesia
O poema é aquilo que
não tem nome, nem repouso, nem lugar, nem lar: fissura que se move em direção à
obra. Inútil circunscrevê-lo para além de paisagens conhecidas, rumo a alguma
zona interditada aos pensamentos, horizonte da antinatureza ou então depois de
finda a sua transposição. Assombra o nosso espaço, pois ele é o nosso tempo. Inapreensível
em cada uma de suas figuras, que surgem apenas para vincular a sua tendência
ascendente à de imprevisíveis sucessões, o poema secreta a sua própria história
tal como o aeroplano traça irredutíveis espirais em sua leitura linear para o
que migra do azul a um ponto branco. Apoiando-se sobre a explosão estrelada da
linguagem, ruminando a aflorante isca do evento, apartando o gesto de seus usos
funcionais, de forma a desconectá-lo de suas intenções temáticas, o poema faz com
que alguém por ele surpreendido peça às suas páginas o abrigo e o descanso de
uma história, o modelo perfeito, apenas vislumbrado, da pedra azul sobre um
rosto, a impossível chave. Sem remissão.
Referência:
DUPIN, Jacques. Démesure de la poésie. In: CAWS, Mary Ann (Ed.). The Yale anthology of twentieth-century french poetry. English and
French on facing pages. New Haven, CT: Yale University Press, 2004. p. 390.
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