Este poema de Ávila possui título similar a um outro de Fernando Pessoa, em “Cancioneiro”.
Pouco importa: se Pessoa afirma que o poeta é um fingidor, Ávila vai
mais longe, pois o vê como um plagiário!
No transcorrer do tempo, todavia, vem declinando a importância dos
vates, por mais visionários que eles sejam: se antes a atenção que lhes dispensavam era honrosa, hoje o que restou são tediosos bocejos às suas
palavras...
J.A.R. – H.C.
Affonso Ávila
(1928-2012)
Pobre velha música
O poeta falava e as
pessoas o ouviam atentamente
O poeta falava e as
pessoas costumavam ouvi-lo atentamente
O poeta falava e as
pessoas costumavam ouvi-lo com alguma atenção
O poeta falava e as
pessoas às vezes o ouviam com alguma atenção
O poeta falava e algumas
pessoas o ouviam com alguma atenção
O poeta falava mas
raras pessoas o ouviam com alguma atenção
O poeta falava e as
pessoas o ouviam sem atenção
O poeta falava e as
pessoas já não o ouviam
O poeta falava e as
pessoas já o olhavam sem ouvir
O poeta mal fala e as
pessoas já abrem a boca em fastio
A ATITUDE DIANTE DO
POETA É O BOCEJO
O Poeta
(Roger de La
Fresnaye: pintor francês)
Referência:
ÁVILA, Affonso. Pobre velha música. In:
PINTO, José Nêumanne (Seleção). Os cem melhores
poetas brasileiros do século. Textos introdutórios e notas biobibliográficas
de Rinaldo de Fernandes. Pesquisa, revisão dos poemas e coordenação de direitos
autorais de Sandra Moura. Ilustrações de Tide Hellmeister. 2. ed. São Paulo,
SP: Geração Editorial, 2004. p. 177-178.
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