Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Salvatore Quasimodo - Auschwitz

Quasimodo, poeta italiano, emprega um tom propositadamente mórbido e deprimente no poema abaixo, tanto quanto o foi o campo de concentração nazista, ali onde pairam cinzas enquanto “medalha do silêncio”.

Apesar de tudo, vê-se que o poeta mantém a esperança de que a morte não suplante em nenhum momento a vontade de viver, tanto mais se ela decorre do vilipêndio a direitos e da desconsideração à dignidade da pessoa humana.

J.A.R. – H.C.

Salvatore Quasimodo
(1901-1968)

Auschwitz

Laggiù, ad Auschwitz, lontano dalla Vistola,
amore, lungo la pianura nordica,
in un campo di morte: fredda, funebre,
la pioggia sulla ruggine dei pali
e i grovigli di ferro dei recinti:
e non albero o uccelli nell’aria grigia
o su dal nostro pensiero, ma inerzia
e dolore che la memoria lascia
al suo silenzio senza ironia o ira.

Tu non vuoi elegie, idilli: solo
ragioni della nostra sorte, qui,
tu, tenera ai contrasti della mente,
incerta a una presenza
chiara della vita. E la vita è qui,
in ogni no che pare una certezza:
qui udremo piangere l’angelo il mostro
le nostre ore future
battere l’al di là, che è qui, in eterno
e in movimento, non in un’immagine
di sogni, di possibile pietà.
E qui le metamorfosi, qui i miti.
Senza nome di simboli o d’un dio,
sono cronaca, luoghi della terra,
sono Auschwitz, amore. Come subito
si mutò in fumo d’ombra
il caro corpo d’Alfeo e d’Aretusa!

Da quell’inferno aperto da una scritta
bianca: Il lavoro vi renderà liberi
uscì continuo il fumo
di migliaia di donne spinte fuori
all’alba dai canili contro il muro
del tiro a segno o soffocate urlando
misericordia all’acqua con la bocca
di scheletro sotto le docce a gas.
Le troverai tu, soldato, nella tua
storia in forme di fiumi, d’animali,
o sei tu pure cenere d’Auschwitz,
medaglia di silenzio?
Restano lunghe trecce chiuse in urne
di vetro ancora strette da amuleti
e ombre infinite di piccole scarpe
e di sciarpe d’ebrei: sono reliquie
d’un tempo di saggezza, di sapienza
dell’uomo che si fa misura d’armi,
sono i miti, le nostre metamorfosi.

Sulle distese dove amore e pianto
marcirono e pietà, sotto la pioggia,
laggiù, batteva un no dentro di noi,
un no alla morte, morta ad Auschwitz,
per non ripetere, da quella buca
di cenere, la morte.

Da: “Il falso e vero verde” (1954)

Auschwitz
Oswiecim - Polônia

Auschwitz

Lá longe, em Auschwitz, distante do Vístula
querida, pela planície nórdica,
em um campo de morte: fria, fúnebre,
a chuva sobre a ferrugem dos postes
e sobre os nós de ferro dos recintos:
e nem uma árvore ou pássaros no ar gris
ou em nossos pensamentos, apenas inércia
e dor, que a memória deixa
ao seu silêncio sem ironia ou ira.

Tu não queres elegias, cânticos: somente
razões da nossa sorte, aqui,
tu, suave nos contrastes do espírito,
incerta a uma presença
clara da vida. E a vida está aqui,
em cada não que semelha uma certeza:
aqui ouviremos chorar o anjo, o monstro,
e nossas horas futuras
soar o além, que está aqui, em eternidade
e em movimento, não na imagem
de sonhos, de possível piedade.
E aqui as metamorfoses, aqui os mitos.
Sem nome de símbolos ou de um deus,
eles são a crônica, os lugares da terra,
são Auschwitz, querida. Como instantânea
em fumaça de sombra, se fez
o caro corpo de Alfeu e de Aretusa!

Daquele inferno aberto por uma escrita
branca: “O trabalho vos fará livres”
saiu contínuo o fumo
de milhares de mulheres, atiradas à alva
fora dos canis contra o muro
do tiro ao alvo ou sufocadas urrando
misericórdia à água com a boca
esquelética sob as duchas a gás.
Tu, soldado, as encontrarás na tua
história, em forma de rios, de animais,
ou és tu também cinzas de Auschwitz,
medalha de silêncio?
Ficaram longas trancas fechadas em urnas
de vidro, ainda atadas com amuletos
e sombras infinitas de pequenos sapatos
e de mantas de hebreus: são relíquias
de um tempo de sapiência, de ciência
do homem que se faz medida de armas,
são os mitos, as nossas metamorfoses.

Nas vastidões, onde amor e pranto
e piedade apodreceram, lá longe
sob a chuva, pulsava um não dentro de nós;
um não à morte, morta em Auschwitz,
para não repetir, daquele ninho
de cinzas, a morte.

De: “O falso e o verdadeiro verde” (1954)

Referências:

Em italiano

QUASIMODO, Salvatore. Auschwitz. In: CAMPOS, Marco Antonio (Selección y traducción). Poetas italianos del siglo XX: Umberto Saba, Vincenzo Cardarelli, Giuseppe Ungaretti y Salvatore Quasimodo. Notas biográficas y epílogo de Stefano Strazzabosco. Edición bilingue. 1. ed. México, DF: Difusión Cultural UNAM, 2004. p. 424 y 426. (Serie ‘El Puente’)

Em português

QUASIMODO, Salvatore. Auschwitz. In: __________. Poesias escolhidas. Tradução de Sílvio Castro. Rio de Janeiro, RJ: Opera Mundi, 1971. p. 175-177. (Biblioteca dos Prêmios Nobel de Literatura patrocinada pela Academia Sueca e pela Fundação Nobel; Prêmio de 1959: Salvatore Quasimodo, Itália)

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