Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Paulo Bomfim - Das Palavras

Os sonetos do paulista Paulo Bonfim têm fluência natural, acessível, sem apelarem para soluções fáceis. Quero com isso dizer que, em suas criações, não são necessárias frequentes inversões ou trânsito forçado de palavras, para provê-las ou bem de rima ou bem de métrica, quando não de ambas. Afinal, o conteúdo está a serviço da clareza e da eficiente disposição das palavras.

Veja-se, por exemplo, o soneto abaixo: nenhum vocábulo extraído a fórceps do dicionário, nada de alusões a figuras míticas à moda clássica. Somente uma prosa de intelecção direta, desembaraçadamente correlacionada à expressão bíblica: “No princípio era o verbo (ou a palavra)!...

J.A.R. – H.C.

Paulo Bomfim
(n. 1926)

Das Palavras

Somos palavras, quem nos pronuncia
E nos une em sentenças tão estranhas,
Quem anda a soletrar pelas montanhas
Os nomes aquecendo a tarde fria?

Quem nos profere com melancolia,
Quem gesta nossas letras nas entranhas,
E nos faz caminhar entre tamanhas
Contradições da noite à luz do dia?

Ah! sopro que nos sopra sem ter boca,
Letras, quem ousaria assim tecê-las
No labirinto da garganta rouca?

Quem ousaria pois falar contudo,
Se o sangue das vogais vem das estrelas,
E as palavras se perdem num céu mudo!

A Criação da Luz
(Gustave Doré: artista francês)

Referência:

BOMFIM, Paulo. Das palavras. In: __________. Livro dos sonetos. São Paulo, SP: El - Edições Inteligentes; Madrid, ES: Amaral Gurgel Editorial, 2006. p. 181.

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