De autoria de um dos maiores poetas do período romântico do “mal do
século” pátrio – morto com pouco mais de vinte anos –, o poema de hoje retrata
as conexões, arraigadas em sua mente, entre a vida, a mulher e a poesia.
Somente a poesia e o amor sobressaem como flores na paisagem inóspita da
vida, retratada pelo poeta: afinal, quer ele fenecer num abraço de ternura,
junto à sua fada, que lhe há de tanger os fios d’alma.
J.A.R. – H.C.
Álvares de Azevedo
(1831-1852)
Trindade
A vida é uma planta misteriosa
Cheia d’espinhos,
negra de amarguras,
Onde só abrem duas
flores puras
Poesia e amor...
E a mulher... é a nota suspirosa
Que treme d’alma a
corda estremecida,
É fada que nos leva
além da vida
Pálidos de langor!
A poesia é a luz da mocidade,
O amor é o poema dos
sentidos,
A febre dos momentos
não dormidos
E o sonhar da
ventura...
Voltai, sonhos de
amor e de saudade!
Quero ainda sentir
arder-me o sangue,
Os olhos turvos, o
meu peito langue...
E morrer de ternura!
Marte desarmado por Vênus
e as três graças
(Jacques-Louis David:
pintor francês)
Referência:
AZEVEDO, Álvares de. Trindade. In:
__________. Lira dos vinte anos.
Jaraguá do Sul, SC: Avenida, 2012. p. 119.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário