Petrarca compara os seus sentimentos aos de um pequeno pássaro a cantar
tristemente num galho de árvore, perto já da noite invernosa, num tom que se
reconhece virgiliano, tal como em certas passagens das “Geórgicas” (v.g., Livro
IV: 507-520).
O soneto suscita a ideia de que a musa do poeta, Laura, teria partido há
pouco desta vida. A lírica de Petrarca torna-se, então, uma referência para muitos
poetas no futuro, mesmo que ancorada num amor puramente platônico.
J.A.R. – H.C.
Petrarca
(1304-1374)
Sonetto CCCLIII
Vago augelletto che
cantando vai,
over piangendo il tuo
tempo passato,
vedendoti Ia notte e
’l verno a lato
e ’l dí dopo le
spalle e i mesi gai,
se, come i tuoi
gravosi affanni sai,
cosí sapessi il mio
simile stato,
verresti in grembo a
questo sconsolato
a partir seco i
dolorosi guai.
I’ non so se le parti
sarian pari,
ché quella cui tu
piangi è forse in vita,
di ch’a me Morte e ’l
ciel son tanto avari;
ma la stagione et l’ora
men gradita,
col membrar de’ dolci
anni et de li amari,
a parlar teco con
pietà m’invita.
Soneto CCCLIII
Doce avezinha que te
vais cantando
Ou chorando talvez o
teu passado,
Vendo a noite chegar
e o duro Inverno
E ficar para trás o
Verão e o dia,
Se como sabes teus
cuidados graves
Souberas minha triste
condição,
Virias ao regaço do
coitado
Partir com ele as
dolorosas queixas.
Eu não sei se a
partilha fora igual,
Que essa por quem tu
choras vive ainda
E a mim, a morte e o
Céu me despojaram.
Mas a estação e a
hora menos grata,
Com o relembrar do
tempo amaro e doce,
A abrir-te o coração
me convidaram.
Referência:
PETRARCA, Francesco. Canzoniere: Sonetto
CCCLIII / Cancioneiro: Soneto CCCLIII. In: __________. Gigantes da literatura universal. Diretor da edição internacional:
Enzo Orlandi. Versão portuguesa (direção e tradução): Esther de Lemos. Lisboa
(PT): Editorial Verbo, 1972. p. 76.
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