Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 10 de abril de 2016

Samuel Taylor Coleridge - Juventude e Velhice

Coleridge, o clássico poeta e ensaísta inglês, tece neste poema um cotejo entre as fases de nossas vidas mais antípodas: a juventude e a velhice. E é claro, as palavras lhe saem num momento em que se encontrava já avançado em idade.

E veja, internauta, certo amargor nos termos empregados pelo poeta, fazendo crer que o melhor do que poderia haver na experiência sobre a Terra já terá fluído. A esperança, que refulge no caminho da juventude, pouco a pouco se esvai com o avançar das primaveras. E quando, no outono da vida, o poeta vê sobre o próprio corpo o efeito do tempo, sente que o seu fim se aproxima...

J.A.R. – H.C.

Samuel Taylor Coleridge
(1772-1834)

Youth and Age

Verse, a breeze mid blossoms straying,
Where Hope clung feeding, like a bee −
Both were mine! Life went a-maying
With Nature, Hope, and Poesy,
When I was young!

When I was young? − Ah, woful When!
Ah! for the change ’twixt Now and Then!
This breathing house not built with hands,
This body that does me grievous wrong,
O’er aery cliffs and glittering sands,
How lightly then it flashed along: −
Like those trim skiffs, unknown of yore,
On winding lakes and rivers wide,
That ask no aid of sail or oar,
That fear no spite of wind or tide!
Nought cared this body for wind or weather
When Youth and I lived in’t together.

Flowers are lovely; Love is flower-like;
Friendship is a sheltering tree;
O! the joys, that came down shower-like,
Of Friendship, Love, and Liberty,
Ere I was old!
Ere I was old? Ah woful Ere,
Which tells me, Youth’s no longer here!
O Youth! for years so many and sweet,
’Tis known, that Thou and I were one,
I’ll think it but a fond conceit −
It cannot be that Thou art gone!

Thy vesper-bell hath not yet toll’d: −
And thou wert aye a masker bold!
What strange disguise hast now put on,
To make believe, that thou are gone?
I see these locks in silvery slips,
This drooping gait, this altered size:
But Spring-tide blossoms on thy lips,
And tears take sunshine from thine eyes!
Life is but thought: so think I will
That Youth and I are house-mates still.

Dew-drops are the gems of morning,
But the tears of mournful eve!
Where no hope is, life’s a warning
That only serves to make us grieve,
When we are old:
That only serves to make us grieve
With oft and tedious taking-leave,
Like some poor nigh-related guest,
That may not rudely be dismist;
Yet hath outstay’d his welcome while,
And tells the jest without the smile.

Juventude e Velhice
(Pietro Della Vecchia: pintor italiano)

Juventude e Velhice

Verso, uma brisa errante entre as flores,
Onde a esperança apegou-se ao alimento, como uma abelha –
Ambas eram minhas! A vida orientava-se a celebrar maio
Com a Natureza, a Esperança e a Poesia,
  Quando eu era jovem!

Quando eu era jovem? – Ah, pesaroso Quando!
Ah, pela mudança entre o Agora e o Depois!
Esta casa que respira não erigida com as mãos,
Este corpo que me inflige nefasto mal,
Sobre vaporosas fragas e areias refulgentes,
Quão facilmente então ele se agitava: –
Como esses adornados esquifes, desconhecidos de outrora,
Sobre redemoinhados lagos e amplos rios,
Que ajuda não pedem nem de vela nem de remo,
Que não temem zanga de vento ou maré!
De nada cuidava este corpo em razão do vento ou do tempo
Quando a Juventude e eu nele juntos vivíamos.

Adoráveis são as flores; o Amor é como a flor;
A Amizade é uma árvore que nos abriga;
Oh! Os prazeres, que como chuviscos caíam,
Da Amizade, do Amor e da Liberdade,
  Antes que eu fosse velho!
Antes que eu fosse velho? Ah, pesaroso Antes,
A me sentenciar que a Juventude não está mais aqui!
Oh Juventude! Durante tantos e doces anos,
Percebia-se que tu e eu éramos um,
Sobre ela refletirei, mas como uma terna presunção –
Não pode ser que tenhas partido!

Ainda não soou o teu sino vesperal: –
E tu sempre foste uma máscara audaz!
Com que estranho disfarce agora te dissimulas
Para fazer crer que já partiste?
Vejo estes cachos em prateadas mechas,
Este andar vergado, este porte alterado:
Mas também flores primaveris em teus lábios,
E lágrimas que arrebatam o brilho dos teus olhos.
A vida não é mais que pensamento: assim cogitarei
Que a Juventude e eu ainda partilhamos o mesmo teto.

As gotas de orvalho são as joias da manhã,
Tanto quanto as lúgubres lágrimas da véspera!
Onde a esperança não se faz presente, a vida é um aviso
Que só serve para nos fazer chorar,
Já que estamos velhos:
Que só serve para nos fazer chorar
Com tantas e tediosas despedidas,
Qual algum humilde e aparentado hóspede,
Que não pode ser bruscamente despedido;
Ainda que tenha ficado mais tempo que o desejável,
E contado piada sem hilaridade.

Referência:

COLERIDGE, Samuel Taylor. Youth and age. In: BUCHAN, John Milne (Ed.). Coleridge’s ancient mariner and selected minor poems. Toronto, CA: Canada Publishing Co., 1885. Last part, p. 18-19.

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