Coleridge, o clássico poeta e ensaísta inglês, tece neste poema um
cotejo entre as fases de nossas vidas mais antípodas: a juventude e a velhice.
E é claro, as palavras lhe saem num momento em que se encontrava já avançado em
idade.
E veja, internauta, certo amargor nos termos empregados pelo
poeta, fazendo crer que o melhor do que poderia haver na experiência sobre a Terra
já terá fluído. A esperança, que refulge no caminho da juventude, pouco a pouco
se esvai com o avançar das primaveras. E quando, no outono da vida, o poeta vê
sobre o próprio corpo o efeito do tempo, sente que o seu fim se aproxima...
J.A.R. – H.C.
Samuel Taylor Coleridge
(1772-1834)
Youth and Age
Verse, a breeze mid blossoms straying,
Where Hope clung feeding, like a bee −
Both were mine! Life went a-maying
With Nature, Hope, and Poesy,
When I was young!
When I was young? − Ah, woful When!
Ah! for the change ’twixt Now and Then!
This breathing house not built with hands,
This body that does me grievous wrong,
O’er aery cliffs and glittering sands,
How lightly then it flashed along: −
Like those trim skiffs, unknown of yore,
On winding lakes and rivers wide,
That ask no aid of sail or oar,
That fear no spite of wind or tide!
Nought cared this body for wind or weather
When Youth and I lived in’t together.
Flowers are lovely; Love is flower-like;
Friendship is a sheltering tree;
O! the joys, that came down shower-like,
Of Friendship, Love, and Liberty,
Ere I was old!
Ere I was old? Ah woful Ere,
Which tells me, Youth’s no longer here!
O Youth! for years so many and sweet,
’Tis known, that Thou and I were one,
I’ll think it but a fond conceit −
It cannot be that Thou art gone!
Thy vesper-bell hath not yet toll’d: −
And thou wert aye a masker bold!
What strange disguise hast now put on,
To make believe, that thou are gone?
I see these locks in silvery slips,
This drooping gait, this altered size:
But Spring-tide blossoms on thy lips,
And tears take sunshine from thine eyes!
Life is but thought: so think I will
That Youth and I are house-mates still.
Dew-drops are the gems of morning,
But the tears of mournful eve!
Where no hope is, life’s a warning
That only serves to make us grieve,
When we are old:
That only serves to make us grieve
With oft and tedious taking-leave,
Like some poor nigh-related guest,
That may not rudely be dismist;
Yet hath outstay’d his welcome while,
And tells the jest without the smile.
Juventude e Velhice
(Pietro Della Vecchia:
pintor italiano)
Juventude e Velhice
Verso, uma brisa
errante entre as flores,
Onde a esperança
apegou-se ao alimento, como uma abelha –
Ambas eram minhas! A
vida orientava-se a celebrar maio
Com a Natureza, a
Esperança e a Poesia,
Quando eu era jovem!
Quando eu era jovem? –
Ah, pesaroso Quando!
Ah, pela mudança
entre o Agora e o Depois!
Esta casa que respira
não erigida com as mãos,
Este corpo que me
inflige nefasto mal,
Sobre vaporosas
fragas e areias refulgentes,
Quão facilmente então
ele se agitava: –
Como esses adornados
esquifes, desconhecidos de outrora,
Sobre redemoinhados
lagos e amplos rios,
Que ajuda não pedem
nem de vela nem de remo,
Que não temem zanga
de vento ou maré!
De nada cuidava este
corpo em razão do vento ou do tempo
Quando a Juventude e
eu nele juntos vivíamos.
Adoráveis são as
flores; o Amor é como a flor;
A Amizade é uma
árvore que nos abriga;
Oh! Os prazeres, que
como chuviscos caíam,
Da Amizade, do Amor e
da Liberdade,
Antes que eu fosse velho!
Antes que eu fosse
velho? Ah, pesaroso Antes,
A me sentenciar que a
Juventude não está mais aqui!
Oh Juventude! Durante
tantos e doces anos,
Percebia-se que tu e
eu éramos um,
Sobre ela refletirei,
mas como uma terna presunção –
Não pode ser que
tenhas partido!
Ainda não soou o teu
sino vesperal: –
E tu sempre foste uma
máscara audaz!
Com que estranho
disfarce agora te dissimulas
Para fazer crer que
já partiste?
Vejo estes cachos em
prateadas mechas,
Este andar vergado,
este porte alterado:
Mas também flores
primaveris em teus lábios,
E lágrimas que
arrebatam o brilho dos teus olhos.
A vida não é mais que
pensamento: assim cogitarei
Que a Juventude e eu
ainda partilhamos o mesmo teto.
As gotas de orvalho
são as joias da manhã,
Tanto quanto as
lúgubres lágrimas da véspera!
Onde a esperança não
se faz presente, a vida é um aviso
Que só serve para nos
fazer chorar,
Já que estamos
velhos:
Que só serve para nos
fazer chorar
Com tantas e tediosas
despedidas,
Qual algum humilde e
aparentado hóspede,
Que não pode ser
bruscamente despedido;
Ainda que tenha ficado
mais tempo que o desejável,
E contado piada sem hilaridade.
Referência:
COLERIDGE, Samuel Taylor. Youth and age. In: BUCHAN, John Milne (Ed.). Coleridge’s ancient mariner and selected
minor poems. Toronto, CA: Canada Publishing Co., 1885. Last part, p. 18-19.
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