Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 9 de abril de 2016

Camilo Pessanha - Caminho (I)

Autor cuja biografia aponta para a edição de um único livro de poesias, “Clepsidra”, de 1920, Pessanha, apesar disso, é considerado, por muitos, como um dos principais poetas do simbolismo lusitano e um precursor da poesia modernista em seu país.

É notória na obra de Pessanha a influência de Verlaine, repleta de versos formais e rimados, como os do exemplo abaixo, em combinação com imagens robustas e sensoriais, de forma a evocar, parece-me, uma mente não exatamente pacificada. Tudo porque seus poemas reverberam a pulsação vívida de seus desejos, crenças e pesares.

J.A.R. – H.C.

Camilo Pessanha
(1867-1926)

Caminho (I)

Tenho sonhos cruéis; n’alma doente
Sinto um vago receio prematuro.
Vou a medo na aresta do futuro,
Embebido em saudades do presente...

Saudades desta dor que em vão procuro
Do peito afugentar bem rudemente,
Devendo, ao desmaiar sobre o poente,
Cobrir-me o coração dum véu escuro!...

Porque a dor, esta falta d’harmonia,
Toda a luz desgrenhada que alumia
As almas doidamente, o céu d’agora,

Sem ela o coração é quase nada:
Um sol onde expirasse a madrugada,
Porque é só madrugada quando chora.

Voo do Anoitecer
(Vladimir Kush: pintor russo)

Referência:

PESSANHA, Camilo. Caminho (I). In: __________. Clepsidra e outros poemas. Lisboa, PT: Edições Ática, 1969. p. 163-164.

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