Imagens da água fluindo, o sofrimento pessoal, o amor que passa, a vida
que escoa com o decurso do tempo. Versos a se repetirem, como a demarcar um
estado de ânimo talvez entediado. Devolutas circulares em rimas compartilhadas...
Apollinaire alude à impermanência do amor humano, em meio à constância
do ser, projetada na figura sólida, imóvel e estática da ponte, rumo à
eternidade. Quanto ao sofrimento de perda, o poeta deixa de pontuar os seus
versos, dando-nos a impressão de que espera que o tempo avance rapidamente e
atenue suas mágoas...
J.A.R. – H.C.
Guillaume Apollinaire
(1880-1918)
Le Pont Mirabeau
Sous le pont Mirabeau
coule la Seine
Et nos amours
Faut-il qu’il m’en souvienne
La joie venait
toujours après la peine
Vienne la nuit sonne l’heure
Les jours s’en vont je demeure
Les mains dans les
mains restons face à face
Tandis que sous
Le pont de nos bras
passe
Des éternels regards
l’onde si lasse
Vienne la nuit sonne l’heure
Les jours s’en vont je demeure
L’amour s’en va comme cette eau courante
L’amour s’en va
Comme la vie est lente
Et comme l’Espérance est violente
Vienne la nuit sonne l’heure
Les jours s’en vont je demeure
Passent les jours et passent les semaines
Ni temps passé
Ni les amours reviennent
Sous le pont Mirabeau coule la Seine
Vienne la nuit sonne
l’heure
Les jours s’en vont je demeure
(“Alcools”, 1913)
Sob a Ponte Mirabeau
(Mona Fontina:
pintora francesa)
O Prazer do Poema
Sob a ponte Mirabeau
desliza o Sena
E os nossos amores
É bom lembrar, vale a
pena,
Que a alegria sucede
aos dissabores
A noite vem passo a
passo
Os dias se vão eu não
passo
As mãos nas mãos
estamos face a face
Enquanto passa
Sob a ponte de nossos
braços
A onda lenta de um
eterno cansaço
A noite vem passo a
passo
Os dias se vão eu não
passo
O amor se vai como
esta água barrenta
O amor se vai
Como a vida é lenta
E como a esperança é
violenta
A noite vem passo a
passo
Os dias se vão eu não
passo
Passam-se os dias
passam-se as semanas
Nada do que passou
volta de novo à cena
Sob a ponte Mirabeau
desliza o Sena
A noite vem passo a
passo
Os dias se vão eu não
passo
(“Alcoóis”, 1913)
Referências:
Em Francês
APPOLINAIRE, Guillaume. Le pont
Mirabeau. ARLAND, Marcel (Choix et commentaires). Anthologie de la poésie française. Nouvelle édition
revue et augmentée. Paris (FR): Éditions Stock, 1960. p. 776-777.
Em Português
APPOLINAIRE, Guillaume. A ponte
Mirabeau. In: GULLAR, Ferreira (Organização e Traduções). O prazer do poema: uma antologia pessoal. Rio de Janeiro: Edições
de Janeiro, 2014. p. 71-72.
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