Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 19 de abril de 2016

Guillaume Apollinaire - A Ponte Mirabeau

Imagens da água fluindo, o sofrimento pessoal, o amor que passa, a vida que escoa com o decurso do tempo. Versos a se repetirem, como a demarcar um estado de ânimo talvez entediado. Devolutas circulares em rimas compartilhadas...

Apollinaire alude à impermanência do amor humano, em meio à constância do ser, projetada na figura sólida, imóvel e estática da ponte, rumo à eternidade. Quanto ao sofrimento de perda, o poeta deixa de pontuar os seus versos, dando-nos a impressão de que espera que o tempo avance rapidamente e atenue suas mágoas...

J.A.R. – H.C.

Guillaume Apollinaire
(1880-1918)

Le Pont Mirabeau

Sous le pont Mirabeau coule la Seine
Et nos amours
Faut-il qu’il m’en souvienne
La joie venait toujours après la peine

Vienne la nuit sonne l’heure
Les jours s’en vont je demeure

Les mains dans les mains restons face à face
Tandis que sous
Le pont de nos bras passe
Des éternels regards l’onde si lasse

Vienne la nuit sonne l’heure
Les jours s’en vont je demeure

L’amour s’en va comme cette eau courante
L’amour s’en va
Comme la vie est lente
Et comme l’Espérance est violente

Vienne la nuit sonne l’heure
Les jours s’en vont je demeure

Passent les jours et passent les semaines
Ni temps passé
Ni les amours reviennent
Sous le pont Mirabeau coule la Seine

Vienne la nuit sonne l’heure
Les jours s’en vont je demeure

(“Alcools”, 1913)

Sob a Ponte Mirabeau
(Mona Fontina: pintora francesa)

O Prazer do Poema

Sob a ponte Mirabeau desliza o Sena
E os nossos amores
É bom lembrar, vale a pena,
Que a alegria sucede aos dissabores

A noite vem passo a passo
Os dias se vão eu não passo

As mãos nas mãos estamos face a face
Enquanto passa
Sob a ponte de nossos braços
A onda lenta de um eterno cansaço

A noite vem passo a passo
Os dias se vão eu não passo

O amor se vai como esta água barrenta
O amor se vai
Como a vida é lenta
E como a esperança é violenta

A noite vem passo a passo
Os dias se vão eu não passo

Passam-se os dias passam-se as semanas
Nada do que passou
volta de novo à cena
Sob a ponte Mirabeau desliza o Sena

A noite vem passo a passo
Os dias se vão eu não passo

(“Alcoóis”, 1913)

Referências:

Em Francês

APPOLINAIRE, Guillaume. Le pont Mirabeau. ARLAND, Marcel (Choix et commentaires). Anthologie de la poésie française. Nouvelle édition revue et augmentée. Paris (FR): Éditions Stock, 1960. p. 776-777.

Em Português

APPOLINAIRE, Guillaume. A ponte Mirabeau. In: GULLAR, Ferreira (Organização e Traduções). O prazer do poema: uma antologia pessoal. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2014. p. 71-72.

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