O poeta do século de ouro espanhol não se furtou a tratar, como tantos
outros vates, do denominado “tempus fugit”: se Cartago foi literalmente riscada
do mapa pelos romanos, o que caberia a cada um de nós, enquanto “Lícios”?!
Os versos finais do poema decompõem o correr dos anos pelo simples fluxo
de cada dia, e cada dia, pelo transcorrer das horas que, como setas, migram a
seu indefectível destino. E cada cometa é um presságio de infortúnio, sendo
melhor, por conseguinte, se precaver, quer a vida seja dotada de propósito quer
não!
J.A.R. – H.C.
Luis de Góngora y Argote
Pintura de Velázquez
(1561-1627)
De la brevedad engañosa de la vida
Menos solicitó veloz
saeta
destinada señal, que
mordió aguda;
agonal carro por la
arena muda
no coronó con más
silencio meta,
que presurosa corre,
que secreta,
a su fin nuestra
edad. A quien lo duda,
fiera que sea de
razón desnuda,
cada Sol repetido es
un cometa.
¿Confiésalo Cartago, y
tú lo ignoras?
Peligro corres,
Licio, si porfías
en seguir sombras y
abrazar engaños.
Mal te perdonarán a
ti las horas;
las horas que limando
están los días,
los días que royendo
están los años.
Tempus Fugit
(Víctor de la Fuente:
pintor espanhol)
Da brevidade enganosa da vida
Menos solicitou
célere seta
destinado sinal, que
morde aguda;
agonal carro pela
areia muda
não coroou com mais
silêncio meta,1
que pressurosa corre,
que secreta,
em seu fim, nossa
idade. A quem se iluda,
fera que seja de
razão desnuda,
cada Sol repetido é
um cometa.2
Reconhece-o Cartago,
e tu o ignoras?
Perigo corres, Lício,
se porfias
em seguir sombras e
abraçar enganos.
Mal te perdoarão a ti
as horas:
as horas que limando
estão os dias,
os dias que roendo
estão os anos.
Notas:
1 “O carro de corrida dá a volta em meio
ao silêncio do público.” (Nota em Poesia
Lírica del Siglo de Oro, de Elias R. Rivers, Cátedra, Madri, 1979; pág.
207.)
2 “Um cometa: ‘um aviso’.” (Id., ibid.)
Referências:
Em Espanhol
ARGOTE, Luis de Góngora y. De la
brevedad engañosa de la vida. In: __________. Antología. 6. ed. Prólogo de Antonio Marichalar (Marqués de
Montesa). Madrid, ES: Espasa-Calpe, 1960. p. 154. (Colección Austral, v. 75)
Em Português
ARGOTE, Luis de Góngora y. Da brevidade
enganosa da vida. Tradução de Anderson Braga Horta. In: HORTA, Anderson Braga;
VIANNA, Fernando Mendes; RIVERA, José Jeronymo (Seleção e tradução). Poetas do século de ouro espanhol / Poetas del siglo de oro español. Edição
bilíngue. Brasília, DF: Thesaurus; Consejería de Educación y Ciência de la
Embajada de España, 2000. p. 219 (Coleção “Orellana” / Colección “Orellana”; v.
12)
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