Neste poema, a poetisa faz uma reflexão tão... como diria?... angustiante,
como se, aos 38 anos de vida, já não houvesse mais nada a contemplar! Diria eu
que, com essa idade, começa-se a vivenciar o que de melhor pode haver na
experiência humana sobre a terra!
Que importa se o corpo já não tem o mesmo viço dos 18 anos?! Além do
mais, não é verdade que o rosto de Cecília houvesse deixado de ser belo mesmo
na maturidade! Tenho para mim que o poema abaixo é tão somente a expressão de um
taciturno momento, que toldou temporariamente o estado luminoso de seu sorriso!
J.A.R. – H.C.
Cecília Meireles
(1901-1964)
Retrato
Eu não tinha este
rosto de hoje,
assim calmo, assim
triste, assim magro,
nem estes olhos tão
vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas
mãos sem força,
tão paradas e frias e
mortas;
eu não tinha este
coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta
mudança,
tão simples, tão
certa, tão fácil:
– Em que espelho
ficou perdida
a minha face?
Em: “Viagem” (1939)
Olhada no Espelho
(Fernand Toussaint: artista
belga)
Referência:
MEIRELES, Cecília. Retrato. In:
MEIRELES, Cecília. Cecília de bolso:
uma antologia poética. Organização e apresentação de Fabrício Carpinejar. Porto
Alegre, RS: L&PM, 2014. p. 29-30. (Coleção L&PM Pocket; v. 700)
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