Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 27 de abril de 2016

Cecília Meireles - Retrato

Neste poema, a poetisa faz uma reflexão tão... como diria?... angustiante, como se, aos 38 anos de vida, já não houvesse mais nada a contemplar! Diria eu que, com essa idade, começa-se a vivenciar o que de melhor pode haver na experiência humana sobre a terra!

Que importa se o corpo já não tem o mesmo viço dos 18 anos?! Além do mais, não é verdade que o rosto de Cecília houvesse deixado de ser belo mesmo na maturidade! Tenho para mim que o poema abaixo é tão somente a expressão de um taciturno momento, que toldou temporariamente o estado luminoso de seu sorriso!

J.A.R. – H.C.

Cecília Meireles
(1901-1964)

Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
– Em que espelho ficou perdida
a minha face?

Em: “Viagem” (1939)

Olhada no Espelho
(Fernand Toussaint: artista belga)

Referência:

MEIRELES, Cecília. Retrato. In: MEIRELES, Cecília. Cecília de bolso: uma antologia poética. Organização e apresentação de Fabrício Carpinejar. Porto Alegre, RS: L&PM, 2014. p. 29-30. (Coleção L&PM Pocket; v. 700)

Nenhum comentário:

Postar um comentário