Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 31 de março de 2016

Stéphane Mallarmé - A Tumba de Edgar Poe

Um poema de um grande poeta francês, Mallarmé, dedicado à memória de outro grande poeta, no caso norte-americano, Poe. Trata-se, de fato, de uma contribuição de Mallarmé ao volume organizado por Sara Sigourney Rice, com aportes de poetas de todo o mundo, em homenagem ao cinquentenário da morte de Allan Poe.

 

Ainda que a presença da morte seja uma constante na poesia de Poe – e isso tenha, de certo modo, assustado os seus contemporâneos –, Mallarmé, àquela altura, já previa que a reputação de Poe, mesmo assim, perduraria no futuro.

 

J.A.R. – H.C.

 

Stéphane Mallarmé

(1842-1898)

 

Le Tombeau d’Edgar Poe

 

Tel qu’en Lui-même enfin l’éternité le change,

Le Poète suscite avec un glaive nu

Son siècle épouvanté de n’avoir pas connu

Que Ia mort triomphait dans cette voix étrange!

 

Eux, comme un vil sursaut d’hydre oyant jadis l’ange

Donner un sens plus pur aux mots de Ia tribu,

Proclamèrent três haut le sortilège bu

Dans le flot sans honneur de quelque noir mélange.

 

Du sol et de Ia nue hostiles, ô grief!

Si notre idée avec ne sculpte un bas-relief

Dont Ia tombe de Poe éblouissante s’orne,

 

Calme bloc ici-bas chu d’un desastre obscur,

Que ce granit du moins montre à jamais sa borne

Aux noirs vols du Blasphème épars dans le futur.

 

(1876)

 

Lápide para Poe em Baltimore (EUA)

 

A Tumba de Edgar Poe

 

Tal que a Si-mesmo enfim a Eternidade o guia,

O Poeta suscita com o gládio erguido

Seu século espantado por não ter sabido

Que nessa estranha voz a morte se insurgia!

 

Vil sobressalto de hidra ante o anjo que urgia

Um sentido mais puro às palavras da tribo,

Proclamaram bem alto o sortilégio atribuído

À onda sem honra de uma negra orgia.

 

Do solo e céu hostis, ó dor! Se o que descrevo –

A ideia sob – não esculpir baixo-relevo

Que ao túmulo de Poe luminescente indique,

 

Calmo bloco caído de um desastre obscuro,

Que este granito ao menos seja eterno dique

Aos voos da Blasfêmia esparsos no futuro.

 

(1876)

 

Referência:

 

MALLARMÉ, Stéphane. Le tombeau d’Edgar Poe / A tumba de Edgar Poe. Tradução de Augusto de Campos. In: __________. Mallarmé. Traduções de Augusto de Campos, Décio Pignatari e Haroldo de Campos. Edição bilíngue. São Paulo, SP: Edusp & Perspectiva, 1975. Em francês: p. 66; em português: p. 67. (Coleção ‘Signos’, v. 2)

3 comentários:

  1. "Tal que a Si-mesmo enfim a Eternidade o guia,"
    Sinto muito, mas horrível a tradução desse verso. Perde-se o essencial: Enfim, a eternidade o transforma em si mesmo. Essa é a ideia que deve ser preservada.
    Sei que traduzir poema é difícil por conta da rima e da métrica, mas esse verso em particular tem de ser preservado pela ideia que comunica.

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    Respostas
    1. Caro Alexandre,
      Por que não levar a crítica ao conhecimento de Augusto de Campos? Assim – quem sabe? –, ele poderia dar um contorno melhor à tradução no ponto por você indicado?!
      Atenciosamente,
      J. A. Rodrigues

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  2. Concordo com o Alexandre. A idéia principal do primeiro verso se perde na tradução do ilustríssimo Augusto de Campos. No mais é rezar para que a tolerância reapareça na humanidade de tempos em tempos.

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