Um poema de um grande
poeta francês, Mallarmé, dedicado à memória de outro grande poeta, no caso
norte-americano, Poe. Trata-se, de fato, de uma contribuição de Mallarmé ao
volume organizado por Sara Sigourney Rice, com aportes de poetas de todo o
mundo, em homenagem ao cinquentenário da morte de Allan Poe.
Ainda que a presença
da morte seja uma constante na poesia de Poe – e isso tenha, de certo modo,
assustado os seus contemporâneos –, Mallarmé, àquela altura, já previa que a
reputação de Poe, mesmo assim, perduraria no futuro.
J.A.R. – H.C.
Stéphane Mallarmé
(1842-1898)
Le Tombeau d’Edgar
Poe
Tel qu’en Lui-même
enfin l’éternité le change,
Le Poète suscite avec
un glaive nu
Son siècle épouvanté
de n’avoir pas connu
Que Ia mort
triomphait dans cette voix étrange!
Eux, comme un vil
sursaut d’hydre oyant jadis l’ange
Donner un sens plus
pur aux mots de Ia tribu,
Proclamèrent três
haut le sortilège bu
Dans le flot sans
honneur de quelque noir mélange.
Du sol et de Ia nue
hostiles, ô grief!
Si notre idée avec ne
sculpte un bas-relief
Dont Ia tombe de Poe
éblouissante s’orne,
Calme bloc ici-bas
chu d’un desastre obscur,
Que ce granit du
moins montre à jamais sa borne
Aux noirs vols du
Blasphème épars dans le futur.
(1876)
Lápide para Poe em
Baltimore (EUA)
A Tumba de Edgar Poe
Tal que a Si-mesmo
enfim a Eternidade o guia,
O Poeta suscita com o
gládio erguido
Seu século espantado
por não ter sabido
Que nessa estranha
voz a morte se insurgia!
Vil sobressalto de
hidra ante o anjo que urgia
Um sentido mais puro
às palavras da tribo,
Proclamaram bem alto
o sortilégio atribuído
À onda sem honra de
uma negra orgia.
Do solo e céu hostis,
ó dor! Se o que descrevo –
A ideia sob – não
esculpir baixo-relevo
Que ao túmulo de Poe
luminescente indique,
Calmo bloco caído de
um desastre obscuro,
Que este granito ao
menos seja eterno dique
Aos voos da Blasfêmia
esparsos no futuro.
(1876)
Referência:
MALLARMÉ,
Stéphane. Le tombeau d’Edgar Poe / A tumba de Edgar Poe. Tradução de
Augusto de Campos. In: __________. Mallarmé. Traduções de Augusto
de Campos, Décio Pignatari e Haroldo de Campos. Edição bilíngue. São Paulo, SP:
Edusp & Perspectiva, 1975. Em francês: p. 66; em português: p. 67. (Coleção
‘Signos’, v. 2)
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"Tal que a Si-mesmo enfim a Eternidade o guia,"
ResponderExcluirSinto muito, mas horrível a tradução desse verso. Perde-se o essencial: Enfim, a eternidade o transforma em si mesmo. Essa é a ideia que deve ser preservada.
Sei que traduzir poema é difícil por conta da rima e da métrica, mas esse verso em particular tem de ser preservado pela ideia que comunica.
Caro Alexandre,
ExcluirPor que não levar a crítica ao conhecimento de Augusto de Campos? Assim – quem sabe? –, ele poderia dar um contorno melhor à tradução no ponto por você indicado?!
Atenciosamente,
J. A. Rodrigues
Concordo com o Alexandre. A idéia principal do primeiro verso se perde na tradução do ilustríssimo Augusto de Campos. No mais é rezar para que a tolerância reapareça na humanidade de tempos em tempos.
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