Do mesmo autor da renomada obra “O Paraíso Perdido” (séc. XVII), John
Milton, este soneto trata da perda de visão de que o poeta foi acometido, um
fato lastimável para quem tem as letras como arte, circunstância que o tornou praticamente
dependente de um terceiro, que lhe recolheu as palavras.
Semelhante ocorrência deu-se com o grande escritor argentino Jorge Luis
Borges, que, com o avançar da idade, foi perdendo a visão, embora sempre
mantendo intacta a lucidez do pensamento, como revelam os seus escritos mais tardios.
J.A.R. – H.C.
John Milton
(1608-1674)
(Gerard Vandergucht: pintor
inglês)
On His
Blindness
When I consider how my light is spent
Ere half my days in this dark world and wide,
And that one talent which is death to hide
Lodged with me useless, though my soul more bent
To serve therewith my Maker, and present
My true account, lest He returning chide
“Doth God exact day-labor, light denied?”
I fondly ask. But Patience, to prevent
That murmur, soon replies, “God doth not need
Either man’s work or his own gifts. Who best
Bear His mild yoke, they serve Him best. His state
Is kingly: thousands at His bidding speed,
And post o’er land and ocean without rest;
They also serve who only stand and wait.”
Refeição do Homem Cego
(Pablo Picasso:
pintor espanhol)
Sobre Sua Cegueira
Medito: nem chegara
ao meio a minha vida,
em vasto e negro
mundo a luz tivera fim;
o Talento que é morte
não usar, em mim
conservo-o ocioso,
embora de alma resolvida
a pôr tal moeda de
bons lucros acrescida,
para que Deus não
zangue ao retornar enfim.
“Deus quer o labor
diurno, e nega a luz assim?”
– tolo indago, e a
Paciência logo me revida:
“Deus não precisa nem
da obra do homem nem
de Suas dádivas.
Melhor O serve quem
melhor Lhe aguenta o
suave jugo. O Seu estado
é régio: correm multidões
ao Seu mandado
e não têm pouso quer
na terra quer no mar:
também O servem os
que ficam a esperar.”
Referência:
MILTON, John. On his blindness / Sobre sua cegueira. Tradução de Péricles Eugênio da
Silva Ramos. In: RAMOS, Péricles Eugênio da Silva (Org.). Poetas de Inglaterra. Tradução e notas em colaboração com Paulo
Vizioli. São Paulo, SP: Bandeirante S.A. Indústria Gráfica, 1970. Em inglês: p.
96; em português: p. 97. (“Poesia de Todos os Tempos”)
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