Um belo poema não pode prescindir de sensibilidade, é claro! Tal é regra
geral. Além disso, não necessariamente deve revelar-se repleto de figuras de
linguagem, à moda clássica. Afinal, pode haver beleza suficiente em palavras enunciadas
quase ao natural!
Um exemplo? Contemple-se a estética serena deste poema redigido pelo
venezuelano Eugenio Montejo! Em poucas linhas ele consegue descrever o modo como a poesia assoma ao espírito do poeta, entregando-se-lhe
à sua guarda e ao seu inteiro dispor...
J.A.R. – H.C.
Eugenio Montejo
(1938-2008)
La poesía
La poesía cruza la
tierra sola,
apoya su voz en el
dolor del mundo
y nada pide
– ni siquiera
palabras.
Llega de lejos y sin
hora, nunca avisa;
tiene la llave de la
puerta.
Al entrar siempre se
detiene a mirarnos.
Después abre su mano
y nos entrega
una flor o un
guijarro, algo secreto,
pero tan intenso que
el corazón palpita
demasiado veloz. Y
despertamos.
(De: “Adiós al siglo XX”, 1992)
Flores e Seixos
A poesia
A poesia cruza a
terra sozinha,
apoia sua voz na dor
do mundo
e nada pede
– nem sequer
palavras.
Chega de longe e sem
hora, nunca avisa;
tem a chave da porta.
Ao entrar sempre se
detém a olhar-nos.
Depois abre sua mão e
nos entrega
uma flor ou um seixo,
algo secreto,
porém tão intenso que
o coração palpita
demasiado veloz. E
despertamos.
(De: “Adeus ao século XX”, 1992)
Referência:
MONTEJO, Eugenio. La poesía. In: __________. Alphabet of the world: selected works by Eugenio Montejo. A
blilingual edition: spanish & english. Edited and translated by Kirk
Nesset. Introduction by Wilfredo Hernández and Kirk Nesset. Norman (OK):
University Oklahoma Press, 2010. p. 106. (“Chicana and Chicano Visions of the
America”, v. 8)
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