Ainda que o poeta diga que a associação não seja evidente, encontramos
na internet (vide abaixo) um trabalho do pintor russo Vladimir Kush, que se
mostra bastante adequado como ilustração àquilo que Costafreda alude.
Pergunta o vate se as palavras são vida ou vão contra a vida: a nosso
ver, são ambas as coisas, pois refletem um estado mental de quem as pronuncia
ou escreve, acerca de coisas que são deste mudo, as quais, por sua vez, podem
ou não estar bem em seu lugar.
Na segunda hipótese, é plausível que haja um confronto entre as palavras
e o objeto a que se reportam, de modo a fazê-lo girar contrafaticamente. E todo
confronto, toda contenda, todo combate não deixa de ser uma forma de
estiolamento, uma oposição talvez contra o próprio estado natural em que a
realidade se manifesta, quando então será uma resistência ao fluxo da própria
vida...
J.A.R. – H.C.
Alfonso Costafreda
(1926-1974)
El Libro
Este libro no existe.
Páginas que habitaran
absurdas el vacío.
Recuerdo
– la asociación no es
evidente –
el ave enloquecida
volando, revolando
sobre el mar
sin poder o sin saber
posarse,
giraba en el vacío,
volaba dentro de sí
misma.
¿Son vida las palabras
o van contra la vida?”
(De: “Suicidios y Otras Muertes”, 1974)
Diário das Descobertas
(Vladimir Kush:
pintor russo)
O Livro
Este livro não
existe.
Páginas absurdas
que habitaram o
vazio. Recordo
– a associação não é
evidente –
a ave enlouquecida
voando, revoando
sobre o mar
sem poder ou sem
saber pousar,
girava no vazio,
voava dentro de si
mesma.
As palavras são vida
ou vão contra a vida?
(De: “Suicídios e Outras Mortes”, 1974)
Referência:
COSTAFREDA, Alfonso. El libro. In:
RUBIO, Fanny; FALCÓ, José Luis (Sellección, estudio y notas). Poesia española contemporánea: historia
y antología (1939-1980). 1. ed. Madrid (ES): Editorial Alhambra, 1981. p.
296-297.
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