Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Fagundes Varela - A Flor do Maracujá

Eis aqui um poema extraído da mais remota memória, da época em que cursava o antigo “Colegial”, lá pelos anos 70! Como poderia dele olvidar, quando, na parte de trás da casa onde residia com meus pais, havia um maracujazeiro bem onipresente, repleto de insetos a cada vez que as suas flores se abriam ao calor do sol?!

A poesia de Varela, como sói ocorre com as criações do período romântico, reflete as tendências do cânone, com muitas associações entre fatos da natureza e os mais íntimos sentimentos do poeta. Compare, leitor, este belo poema com o que lhe antecede, do também romântico Percy Shelley, e perceberá a semelhança dos traços.

J.A.R. – H.C.

Fagundes Varela
(1841-1875)

A Flor do Maracujá

Pelas rosas, pelos lírios,
Pelas abelhas, sinhá,
Pelas notas mais chorosas
Do canto do sabiá,
Pelo cálice de angústias
Da flor do maracujá!

Pelo jasmim, pelo goivo,
Pelo agreste manacá,
Pelas gotas de sereno
Nas folhas do gravatá,
Pela coroa de espinhos
Da flor do maracujá!

Pelas tranças da mãe d’água
Que junto da fonte está,
Pelos colibris que brincam
Nas alvas plumas do ubá,
Pelos cravos desenhados
Na flor do maracujá.

Pelas azuis borboletas
Que descem do Panamá,
Pelos tesouros ocultos
Nas minas do Sincorá,
Pelas chagas roxeadas
Da flor do maracujá!

Pelo mar, pelo deserto,
Pelas montanhas, sinhá!
Pelas florestas imensas
Que falam de Jeová!
Pela lança ensanguentada
Da flor do maracujá!

Por tudo o que o céu revela,
Por tudo o que a terra dá
Eu te juro que minh’alma
De tua alma escrava está!...
Guarda contigo este emblema
Da flor do maracujá!

Não se enojem teus ouvidos
De tantas rimas em – a
Mas ouve meus juramentos,
Meus cantos ouve, sinhá!
Te peço pelos mistérios
Da flor do maracujá!

Em: “Cantos Meridionais”

A Flor do Maracujá

Referência:

VARELA, L. N. Fagundes. A flor do maracujá. In: __________. Obras completas. v. II. Edição organizada por Visconti Coaracy. Estudo crítico de Franklin Távora. Rio de Janeiro, RJ: B. L. Garnier - Livreiro Editor, 1892. p. 120-121.

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