Eis aqui um poema extraído da mais remota memória, da época em que
cursava o antigo “Colegial”, lá pelos anos 70! Como poderia dele olvidar,
quando, na parte de trás da casa onde residia com meus pais, havia um
maracujazeiro bem onipresente, repleto de insetos a cada vez que as suas flores
se abriam ao calor do sol?!
A poesia de Varela, como sói ocorre com as criações do período
romântico, reflete as tendências do cânone, com muitas associações entre fatos
da natureza e os mais íntimos sentimentos do poeta. Compare, leitor, este belo
poema com o que lhe antecede, do também romântico Percy Shelley, e perceberá a semelhança dos traços.
J.A.R. – H.C.
Fagundes Varela
(1841-1875)
A Flor do Maracujá
Pelas rosas, pelos lírios,
Pelas abelhas, sinhá,
Pelas notas mais
chorosas
Do canto do sabiá,
Pelo cálice de angústias
Da flor do maracujá!
Pelo jasmim, pelo
goivo,
Pelo agreste manacá,
Pelas gotas de sereno
Nas folhas do gravatá,
Pela coroa de
espinhos
Da flor do maracujá!
Pelas tranças da mãe
d’água
Que junto da fonte
está,
Pelos colibris que
brincam
Nas alvas plumas do
ubá,
Pelos cravos
desenhados
Na flor do maracujá.
Pelas azuis
borboletas
Que descem do Panamá,
Pelos tesouros
ocultos
Nas minas do Sincorá,
Pelas chagas roxeadas
Da flor do maracujá!
Pelo mar, pelo
deserto,
Pelas montanhas,
sinhá!
Pelas florestas
imensas
Que falam de Jeová!
Pela lança ensanguentada
Da flor do maracujá!
Por tudo o que o céu
revela,
Por tudo o que a
terra dá
Eu te juro que minh’alma
De tua alma escrava
está!...
Guarda contigo este
emblema
Da flor do maracujá!
Não se enojem teus
ouvidos
De tantas rimas em –
a
Mas ouve meus
juramentos,
Meus cantos ouve,
sinhá!
Te peço pelos mistérios
Da flor do maracujá!
Em: “Cantos Meridionais”
A Flor do Maracujá
Referência:
VARELA, L. N. Fagundes. A flor do
maracujá. In: __________. Obras
completas. v. II. Edição organizada por Visconti Coaracy. Estudo crítico de
Franklin Távora. Rio de Janeiro, RJ: B. L. Garnier - Livreiro Editor, 1892. p.
120-121.
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