Um poema a retratar a difícil solidão de uma criança órfã que, mais
tarde, tornou-se um poeta, a distribuir aos seus pares toda a beleza que lhe
vai no interno, num processo catártico viabilizado quase sempre pelo universo
da arte.
Há uma certa autoironia de O’Hara, quando afirma ser o “centro de toda a
beleza”. Seja como for, uma solitária experiência se transformou num canto de
celebração ao poder de que ora lança mão para expressar intimidade e abstração.
A ideia do poema como que ratifica a tese de Rubem Alves, para quem “ostra feliz não faz pérola”, exato título de uma de suas obras. O argentino Ernesto Sabato defende argumento de semelhante teor:
“Quando era moço, eu escrevia sempre que me sentia infeliz, sozinho ou desajustado com o mundo em que me coube nascer. E penso se não será sempre assim, se a arte não nascerá invariavelmente de nosso desajuste, de nossa ansiedade e nosso descontentamento. Uma espécie de gesto de reconciliação com o universo, tentado por esta raça de frágeis, inquietas e ansiosas criaturas que somos os seres humanos” (SABATO, 2008, p. 77-78).
A ideia do poema como que ratifica a tese de Rubem Alves, para quem “ostra feliz não faz pérola”, exato título de uma de suas obras. O argentino Ernesto Sabato defende argumento de semelhante teor:
“Quando era moço, eu escrevia sempre que me sentia infeliz, sozinho ou desajustado com o mundo em que me coube nascer. E penso se não será sempre assim, se a arte não nascerá invariavelmente de nosso desajuste, de nossa ansiedade e nosso descontentamento. Uma espécie de gesto de reconciliação com o universo, tentado por esta raça de frágeis, inquietas e ansiosas criaturas que somos os seres humanos” (SABATO, 2008, p. 77-78).
J.A.R. – H.C.
Frank O’Hara
(1926-1966)
Autobiographia Literaria
When I was a child
I played by myself in a
corner of the schoolyard
all alone.
I hated dolls and I
hated games, animals were
not friendly and birds
flew away.
If anyone was looking
for me I hid behind a
tree and cried out “I am
an orphan.”
And here I am, the
center of all beauty!
writing these poems!
Imagine!
O Órfão
(Walter Langley:
pintor inglês)
Autobiografia Literária
Quando eu era criança
brincava comigo mesmo
num
canto do pátio da
escola
completamente
sozinho.
Eu execrava as bonecas
e me
aborrecia com os
jogos, os animais
eram-me inamistosos e
os pássaros
para longe voavam.
Se alguém ficasse
olhando
para mim, escondia-me
atrás de
uma árvore e bradava “Eu
sou
um órfão”.
E aqui estou eu, o
centro de toda a
beleza!
escrevendo estes
poemas!
Imaginem!
Referências:
O’HARA, Frank. Autobiogrphia literaria. In: AXELROD, Steven Gould;
ROMAN, Camile; TRAVISANO, Thomas (Eds.). The
new anthology of american poetry: postmodernisms 1950-present. v. 3.
Piscataway, NJ: Rutgers Unviersity Press, 2012. p. 207.
SABATO, Ernesto. Os valores comunitários. In: __________. A resistência. Tradução de Sérgio Molina. Primeira reimpressão. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2008. p. 65-80.
SABATO, Ernesto. Os valores comunitários. In: __________. A resistência. Tradução de Sérgio Molina. Primeira reimpressão. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2008. p. 65-80.
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