Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 24 de março de 2016

Richard Wilbur - O Belo se Transforma

A beleza, como quase tudo na vida, é contingente, passageira, instável. Mas mesmo em sua mutabilidade, há nela certo grau de permanência, como no caso das belezas naturais, que finitas no tempo, propagam-se por reprodução e se estendem para muito além do interregno pelo qual perdura a vida dos seres individuais.

E, por isso, a beleza se transforma de realidade em realidade, incorporando novos conceitos, como no caso da arte, já que produto de um ser cuja natureza prima pela diversidade, pela detenção de uma alma camaleônica, prismática, nuançada, que se recusa a ceder a interpretações definitivas.

J.A.R. – H.C.

Richard Wilbur
(n. 1921)

The Beautiful Changes

One wading a Fall meadow finds on all sides  
The Queen Anne’s Lace lying like lilies
On water; it glides
So from the walker, it turns
Dry grass to a lake, as the slightest shade of you  
Valleys my mind in fabulous blue Lucernes.

The beautiful changes as a forest is changed  
By a chameleon’s tuning his skin to it;  
As a mantis, arranged
On a green leaf, grows
Into it, makes the leaf leafier, and proves  
Any greenness is deeper than anyone knows.

Your hands hold roses always in a way that says  
They are not only yours; the beautiful changes  
In such kind ways,  
Wishing ever to sunder
Things and things’ selves for a second finding, to lose  
For a moment all that it touches back to wonder.

Água Encantada
(Ann Marie Bone: artista inglesa)

O Belo se Transforma

Quem atravessa uma campina outonal, em toda parte,
Encontra as rendas da rainha Ana: – lírios
Sobre a água: magia e arte
Que ao caminhante fazem transformar
A relva seca em lago, como tua sombra mínima
Aplaina minha alma de azul luzerna.

O belo se transforma como a floresta
Que um camaleão altera a ela adaptando a pele;
Como o louva-a-deus que se assesta
Numa folha verde e nela se invagina
Tanto que mais enfolhece a folha e prova
Que o verdor é maior do que se imagina.

Tuas mãos seguram rosas como dizendo, eloquentes,
Que as rosas não são só tuas; o belo se transforma
Tão delicadamente
Procurando a partilha
Das coisas, da alma das coisas (para achá-las de novo)
Que, por momentos, aquilo que se toca, foge – de volta
à Maravilha.

Referência:

WILBER, Richard. The beautiful changes / O belo se transforma. Tradução de Jorge Wanderley. In: KEYS, Kerry Shawn (Ed.). Quingumbo: new north american poetry / nova poesia norte-americana. Antologia bilíngue. São Paulo, SP: Escrita, 1980. Em inglês: p. 54; em português: p. 55.

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