A beleza, como quase tudo na vida, é contingente, passageira, instável. Mas
mesmo em sua mutabilidade, há nela certo grau de permanência, como no caso das
belezas naturais, que finitas no tempo, propagam-se por reprodução e se
estendem para muito além do interregno pelo qual perdura a vida dos seres individuais.
E, por isso, a beleza se transforma de realidade em realidade,
incorporando novos conceitos, como no caso da arte, já que produto de um ser
cuja natureza prima pela diversidade, pela detenção de uma alma camaleônica,
prismática, nuançada, que se recusa a ceder a interpretações definitivas.
J.A.R. – H.C.
Richard Wilbur
(n. 1921)
The Beautiful
Changes
One wading a Fall meadow finds on all sides
The Queen Anne’s Lace lying like lilies
On water; it glides
So from the walker, it turns
Dry grass to a lake, as the slightest shade of
you
Valleys my mind in fabulous blue Lucernes.
The beautiful changes as a forest is changed
By a chameleon’s tuning his skin to it;
As a mantis, arranged
On a green leaf, grows
Into it, makes the leaf leafier, and proves
Any greenness is deeper than anyone knows.
Your hands hold roses always in a way that
says
They are not only yours; the beautiful changes
In such kind ways,
Wishing ever to sunder
Things and things’ selves for a second finding, to
lose
For a moment all that it touches back to wonder.
Água Encantada
(Ann Marie Bone:
artista inglesa)
O Belo se Transforma
Quem atravessa uma
campina outonal, em toda parte,
Encontra as rendas da
rainha Ana: – lírios
Sobre a água: magia e
arte
Que ao caminhante
fazem transformar
A relva seca em lago,
como tua sombra mínima
Aplaina minha alma de
azul luzerna.
O belo se transforma
como a floresta
Que um camaleão
altera a ela adaptando a pele;
Como o louva-a-deus
que se assesta
Numa folha verde e
nela se invagina
Tanto que mais
enfolhece a folha e prova
Que o verdor é maior
do que se imagina.
Tuas mãos seguram
rosas como dizendo, eloquentes,
Que as rosas não são
só tuas; o belo se transforma
Tão delicadamente
Procurando a partilha
Das coisas, da alma
das coisas (para achá-las de novo)
Que, por momentos,
aquilo que se toca, foge – de volta
à Maravilha.
Referência:
WILBER, Richard. The beautiful changes / O belo se transforma. Tradução de Jorge
Wanderley. In: KEYS, Kerry Shawn (Ed.). Quingumbo: new north american poetry / nova poesia norte-americana.
Antologia bilíngue. São Paulo, SP: Escrita, 1980. Em inglês: p. 54; em
português: p. 55.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário