Emerson vê os dias – autênticas crias do tempo – a passar por ele:
enquanto observa os outros, sente que aos poucos a vida se lhe esvai. Se os
dias são hipocríticos é porque podem ser enganosos a qualquer pessoa, longe de
se saber se trarão prazeres ou infortúnios.
Mas é a cada um que cabe fazer o melhor que se possa extrair de um dia.
Afinal, eles vêm e vão como figuras abafadas e mudas enviadas de uma amigável e
distante paragem, porém nada manifestam, e se não usamos as graças que nos
trazem, levam-nas silenciosamente para longe...
J.A.R. – H.C.
Ralph Waldo Emerson
(1803-1882)
Days
Daughters of Time, the hypocritic Days,
Muffled and dumb like barefoot dervishes,
And marching single in an endless file,
Bring diadems and fagots in their hands.
To each they offer gifts after his will,
Bread, kingdoms, stars, and sky that holds them
all.
I, in my pleached garden, watched the pomp,
Forgot my morning wishes, hastily
Took a few herbs and apples, and the Day
Turned and departed silently. I, too late,
Under her solemn fillet saw the scorn.
O Retorno dos Dias de Trabalho
(Pietro Barucci:
pintor italiano)
Dias
Filhas do Tempo, os
hipocríticos Dias,
Abafados e mudos como
dervixes descalços,
E marchando um após
outro em interminável fila,
Trazem diademas e
adornos em suas mãos.
A cada qual oferecem
presentes à vontade,
Pão, reinos, estrelas
e o céu que as sustém.
Eu, em meu entretecido jardim, apreciei a pompa,
Esqueci os meus
desejos matinais, às pressas
Tomei algumas ervas e
maçãs, e o Dia,
Virando-se, partiu em
silêncio. Tarde demais,
Percebi o desdém sob
o seu solene laço.
Referência:
EMERSON, Ralph Waldo. Days. In: BENÉT, William Rose; AIKEN, Conrad
(Eds.). An anthology of famous english
and american poetry. New York, NY: Random House Inc., 1945. p. 594. (The
Modern Library)
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