O poeta dominicano Pedro Mir sente certa apatia ao confrontar a
realidade de sua própria existência e a ambicionada felicidade, tantas vezes
imaginada em pensamentos que se esvaem nas espirais dos cigarros tragados.
Mir sente que a sua vida estagnou num charco, um perigoso espaço de
inércia capaz de levar à indiferença: cumpre desencalhar o navio de sua
existência em direção a rotas que o projetem para fora de sua zona de
conforto...
J.A.R. – H.C.
Pedro Mir
(1913-2000)
Abulia
Mi vida va de viaje
en un bostezo.
Desflorada de rutas
mi vida se ha
olvidado del camino
y se orienta en mi
barro…
¡Cuántas volutas de
pensamiento
salen de las cenizas
de mi cigarro!
Mi carne se hace
elástica de hastío
y se da en la
amplitud de un desperezo.
Después de todo: yo
soy mío.
Mi vida es un navío
que ha cabido en el
charco de un bostezo.
Bocejando
(Joseph Ducreux:
pintor francês)
Abulia
Minha vida viaja num
bocejo.
Desflorada de rotas
minha vida tem-se
esquecido do caminho
e se orienta em meu
barro...
Quantas espirais de
pensamento
saem das cinzas de
meu cigarro!
Minha carne faz-se
elástica de fastio
e se dá na amplitude
de um estirar-se.
Depois de tudo: eu
sou meu.
Minha vida é um navio
que tem-se alojado no
charco de um bocejo.
Referência:
MIR, Pedro. Abulia. In: __________. Primeros versos. Santo Domingo (DO):
Taller, 1993. p. 25.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário