Num soneto em versos brancos (sem rima), o poeta boliviano Óscar Cerruto
também tece loas à arte poética, essa arte que é metade aurora, outra metade
deslumbramentos alastrados por essa palavra chamada “amor”, que, segundo o
autor, não sofre desgaste no decurso do tempo.
Cerruto resgata ainda a ideia de poesia enquanto esfinge a ser decifrada
pelo poeta: num estrépito de inspiração, pode ela fulgurá-lo com a necessária
eloquência, capaz de declinar sob a forma de versos as mais belas estruturas de
pensamento.
J.A.R. – H.C.
Óscar Cerruto
(1912-1981)
Poética
No eres sólo el
fulgor que sin mesura
estalla, ni su
estrépito previsto.
Ni las apelaciones de
la esfinge,
o la avidez, o la
otra idolatría.
Lúcida sí, flagrante
certidumbre,
región de
transparencia en la que inmerso
está el tiempo,
zumbando, lo que somos,
la boca memorable del
augurio.
En un trono de hierro
y santidades,
abiertas las heridas,
y la flecha
de las perpetuas
causas en las sienes,
eres esa palabra no
gastada:
amor; una mitad, como
la aurora,
en sombra. Otra mitad
deslumbramientos.
De: “Patria de sal cautiva” (1957)
Crepúsculo no Deserto
(Frederic Edwin
Church: pintor norte-americano)
Poética
Não és somente o
fulgor que sem mesura
estoura, nem seu
estrépito previsto.
Nem as apelações da
esfinge,
Ou a avidez, ou a
outra idolatria.
Lúcida sim, flagrante
certeza,
região de
transparência na qual imerso
está o tempo,
zumbindo, o que somos,
a boca memorável do
augúrio.
Em um trono de ferro
e santidades,
abertas as feridas, e
a flecha
das perpétuas causas
nas têmporas,
és essa palavra não gasta:
amor; uma metade,
como a aurora,
na sombra. Outra
metade deslumbramentos.
De: “Pátria de sal cativa” (1957)
Referência:
CERRUTO, Oscar. Poética. In: __________.
Obra poética. Recopilación,
introducción y notas de Mónica Velásquez Guzmán. 1. ed. La Paz (BO): Plural,
2007. p. 91.
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