O homem – essa maleável criação da natureza – está a meio caminho entre
as partículas subatômicas e a grandiosidade sem par das galáxias, de tal forma
que há muito a filosofia se ocupa de suas perguntas primeiras e essenciais.
Slutsky parece navegar em páginas pascalinas, nas quais se investiga o
que seria o homem frente ao infinito: “Só vejo o infinito em toda parte,
encerrando-me como um átomo e como uma sombra que dura apenas um instante que
não volta” (Blaise Pascal - “Pensamentos”: Art. 1 - “Contra a Indiferença dos Ateus”).
J.A.R. – H.C.
Boris Slutsky
(1919-1986)
O Homem
O homem não está a
meio caminho
Entre Leningrado e
Moscou,
Como a estação
Bologoe,
Mas entre o deserto e
o jardim.
O homem está a meio
caminho
Entre o mundo infra-atômico
Pequeno mundo das
células
E o cosmos vazio e
escuro
Cheio de poeira
celeste.
No homem se cruzam os
caminhos
Do simples e do
complexo,
E através dele os
astros
Ecoam sua luz nos
prótons.
Débil e forte entre
os fortes
A um tempo grande e
pequeno:
Por alguma razão seus
olhos
Refletem o céu
estrelado.
Um Pintor
(Jean-Louis Ernest
Meissonier: artista francês)
Referência:
SLUTSKY, Boris. O homem. Tradução de
Ferreira Gullar. In: GULLAR, Ferreira (Organização e Traduções). O prazer do poema: uma antologia pessoal.
Rio de Janeiro, RJ: Edições de Janeiro, 2014. p. 301.
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