Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 3 de março de 2016

Boris Slutsky - O Homem

O homem – essa maleável criação da natureza – está a meio caminho entre as partículas subatômicas e a grandiosidade sem par das galáxias, de tal forma que há muito a filosofia se ocupa de suas perguntas primeiras e essenciais.

Slutsky parece navegar em páginas pascalinas, nas quais se investiga o que seria o homem frente ao infinito: “Só vejo o infinito em toda parte, encerrando-me como um átomo e como uma sombra que dura apenas um instante que não volta” (Blaise Pascal - “Pensamentos”: Art. 1 - “Contra a Indiferença dos Ateus”).

J.A.R. – H.C.

Boris Slutsky
(1919-1986)

O Homem

O homem não está a meio caminho
Entre Leningrado e Moscou,
Como a estação Bologoe,
Mas entre o deserto e o jardim.

O homem está a meio caminho
Entre o mundo infra-atômico
Pequeno mundo das células
E o cosmos vazio e escuro
Cheio de poeira celeste.

No homem se cruzam os caminhos
Do simples e do complexo,
E através dele os astros
Ecoam sua luz nos prótons.

Débil e forte entre os fortes
A um tempo grande e pequeno:
Por alguma razão seus olhos
Refletem o céu estrelado.

Um Pintor
(Jean-Louis Ernest Meissonier: artista francês)

Referência:

SLUTSKY, Boris. O homem. Tradução de Ferreira Gullar. In: GULLAR, Ferreira (Organização e Traduções). O prazer do poema: uma antologia pessoal. Rio de Janeiro, RJ: Edições de Janeiro, 2014. p. 301.

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