Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 30 de março de 2016

Jean-Nicolas Arthur Rimbaud - Meninos de Rua

Para suprir lastimável lacuna do blog em relação a esse reputado poeta francês, trazemos um poema de Arthur Rimbaud, criação à parte de seu famoso “Une Saison en Enfer” (“Uma Temporada no Inferno”).

Mas o seu efeito não é tão diferente em relação às durezas da vida: reporta-se o poema a garotos que brincam na rua, ao tempo em que se põem à espera de uma fornada de pão, na expectativa da boa vontade do padeiro para abreviar a fome!

J.A.R. – H.C.

Arthur Rimbaud
(1854-1891)

Les Effarés

Noirs dans la neige et dans la brume,
Au grand soupirail qui s’allume,
Leurs culs en rond,

A genoux, cinq petits, − misère! −
Regardent le Boulanger faire
Le lourd pain blond.

Ils voient le fort bras blanc qui tourne
La pâte grise et qui l’enfourne
Dans un trou clair.

Ils écoutent le bon pain cuire.
Le Boulanger au gras sourire
Grogne un vieil air.

Ils sont blottis, pas un ne bouge,
Au souffle du soupirail rouge
Chaud comme un sein.

Quand pour quelque médianoche,
Façonné comme une brioche
On sort le pain,

Quand, sous les poutres enfumées,
Chantent les croûtes parfumées
Et les grillons,

Que ce trou chaud souffle la vie,
Ils ont leur âme si ravie
Sous leurs haillons,

Ils se ressentent si bien vivre,
Les pauvres Jésus pleins de givre,
Qu’ils sont là tous,

Collant leurs petits museaux roses
Au treillage, grognant des choses
Entre les trous,

Tout bêtes, faisant leurs prières
Et repliés vers ces lumières
Du ciel rouvert,

Si fort qu’ils crèvent leur culotte
Et que leur chemise tremblote
Au vent d’hiver.

Meninos mendigos comendo uvas e melões
(Bartolomé Esteban Murillo: pintor espanhol)

Meninos de Rua

Negros na neve e na penumbra,
Junto ao respiro que os alumbra,
  De joelhos, são

Cinco meninos – Cristo! – ao ar,
Vendo o Padeiro preparar
  O louro pão.

Um braço forte e branco esconde
A massa num buraco donde
  Vem um clarão.

O Padeiro é calmo e preciso;
Tem nos lábios gordo sorriso,
  Velha canção.

Agachados, já a noite em meio,
Ao sopro quente como um seio
  Ou um coração

Que vem do forno se elevando,
Ei-los, imóveis, escutando
  Cozer o pão.

E quando, enfim, noite alta e feia,
Para alguma tardia ceia
  Tira-se o pão,

E sob as traves enfumadas
Cantam as côdeas perfumadas
  Tenra canção,

Nesse quente sopro de vida
A sua alminha embevecida
  Sente-se alçar

Dentre os farrapos, leve, leve,
Pobres Jesus cheios de neve;
  E a suspirar,

Colando os míseros rostinhos
À grade, entre finos gritinhos,
  Por contemplar

O céu que do fundo os aquece,
Debruçam-se sobre ele em prece,
  Com tanto ansiar

Que rasgam das calças o zuarte,
E as camisas, como estandarte,
  Se estiram no ar.

Referência:

RIMBAUD, Jean-Nicolas Arthur. Les effarés / Meninos de rua. Tradução de Anderson Braga Horta. In: HORTA, Anderson Braga. Traduzir poesia. Brasília, DF: Thesaurus, 2004. Em francês: p. 238 e 240; em português: p. 239 e 241.

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