Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 13 de março de 2016

Carlos Martínez Rivas - Ars Poetica

Agora é a vez do grande poeta nicaraguense Carlos M. Rivas trazer a arte poética para o centro de seus cuidados literários. Ele a tem como uma parceira, ainda que a poesia seja relutante ao amor – já que sempre abraçada à mutável eternidade do fugaz – e mesmo o poeta, por vezes, também se mostre infiel nessa relação...

“Onde quero exílio e silêncio, não transpasses o limite”: eis o programa de uma arte poética sem concessões a apelos que a desnaturem, pois poesia e vida se identificam, assim como a escrita e o próprio autor.

J.A.R. – H.C.

Carlos Martínez Rivas
(1927-1998)

Ars Poetica

¿Que eres reacia al Amor, pues su manía
de eternidad te ahuyenta, y su insistente
voz como un chirriante ruiseñor
te exaspera y quieres solamente
besar lo pasajero en la cambiante
eternidad de lo fugaz? – entonces

¡soy tu hombre! Pues más hospitalario
que el mío un corazón no halló jamás
para posarse el falso amor. Igual
que llegué, parto: solo, y cuando mudo
de cielo mudo también de corazón.

Pero, atiende: no vas a hacer traición
a tu alma infiel. No intentes, si una chispa
del hijo del hombre ves en mis ojos,
descifrarla, ni trates de inquirir mucho
en mi acento y el fondo de mi risa.

Donde quiero destierro y silencio
no traspases la linde. Allí el buitre
blanco del Juicio anida y sólo el
ceño de la vida privada ¡canta!

De: “La insurrección solitaria” (1953)

Ponte para a Eternidade
(Michael Lang: artista britânico)

Ars Poetica

Que és relutante ao Amor, pois sua mania
de eternidade te afugenta, e sua insistente
voz como um estridente rouxinol
te exaspera e queres somente
beijar o passageiro na mutável
eternidade do fugaz? – então

sou teu homem! Pois mais hospitaleiro
que o meu, um coração jamais encontrou
o falso amor para estabelecer-se. Tal como
cheguei, parto: sozinho, e quando mudo
de céu mudo também de coração.

Porém, atende: não traias
a tua alma infiel. Não tentes, se vês uma centelha
do filho do homem em meus olhos,
decifra-a, nem trates de inquirir muito
em minha ênfase e no fundo de meu riso.

Onde quero exílio e silêncio
não transpasses o limite. Ali o abutre
branco do Juízo faz seu ninho e somente o
cenho da vida privada canta! 

De: “A insurreição solitária”

Referência:

RIVAS, Carlos Martínez. Ars poetica. In: Ortega, Julio (Comp.). Antología de la poesía hispanoamericana actual. 8. ed. México (DF): Siglo XXI, 2001. p. 180.

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