Agora é a vez do grande poeta nicaraguense Carlos M. Rivas trazer a arte
poética para o centro de seus cuidados literários. Ele a tem como uma parceira,
ainda que a poesia seja relutante ao amor – já que sempre abraçada à mutável
eternidade do fugaz – e mesmo o poeta, por vezes, também se mostre infiel nessa
relação...
“Onde quero exílio e silêncio, não transpasses o limite”: eis o programa
de uma arte poética sem concessões a apelos que a desnaturem, pois poesia e
vida se identificam, assim como a escrita e o próprio autor.
J.A.R. – H.C.
Carlos Martínez Rivas
(1927-1998)
Ars Poetica
¿Que eres reacia al
Amor, pues su manía
de eternidad te
ahuyenta, y su insistente
voz como un
chirriante ruiseñor
te exaspera y quieres
solamente
besar lo pasajero en
la cambiante
eternidad de lo fugaz? – entonces
¡soy tu hombre! Pues más
hospitalario
que el mío un corazón
no halló jamás
para posarse el falso
amor. Igual
que llegué, parto:
solo, y cuando mudo
de cielo mudo también
de corazón.
Pero, atiende: no vas
a hacer traición
a tu alma infiel. No
intentes, si una chispa
del hijo del hombre
ves en mis ojos,
descifrarla, ni
trates de inquirir mucho
en mi acento y el
fondo de mi risa.
Donde quiero
destierro y silencio
no traspases la
linde. Allí el buitre
blanco del Juicio
anida y sólo el
ceño de la vida
privada ¡canta!
De: “La insurrección solitaria” (1953)
Ponte para a Eternidade
(Michael Lang: artista
britânico)
Ars Poetica
Que és relutante ao
Amor, pois sua mania
de eternidade te
afugenta, e sua insistente
voz como um
estridente rouxinol
te exaspera e queres
somente
beijar o passageiro
na mutável
eternidade do fugaz?
– então
sou teu homem! Pois
mais hospitaleiro
que o meu, um coração
jamais encontrou
o falso amor para
estabelecer-se. Tal como
cheguei, parto:
sozinho, e quando mudo
de céu mudo também de
coração.
Porém, atende: não traias
a tua alma infiel.
Não tentes, se vês uma centelha
do filho do homem em
meus olhos,
decifra-a, nem trates
de inquirir muito
em minha ênfase e no
fundo de meu riso.
Onde quero exílio e
silêncio
não transpasses o
limite. Ali o abutre
branco do Juízo faz
seu ninho e somente o
cenho da vida privada
canta!
De: “A insurreição solitária”
Referência:
RIVAS, Carlos Martínez. Ars poetica. In:
Ortega, Julio (Comp.). Antología de la
poesía hispanoamericana actual. 8. ed. México (DF): Siglo XXI, 2001. p. 180.
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