Vivemos num planeta cuja superfície é dominada pela Água, ainda que se
chame Terra. E é sobre essa realidade que a espanhola Glória Fuertes se atém, quando nos oferece o poema em epígrafe.
Fuertes assinala que cada verso escrito veicula mais sangue – ou seja,
mais dores e flagelos experimentados em vida – do que propriamente tinta a se
esvair com o deslizar da pena. E a palavra tende a nascer de um estado líquido
da matéria, cuja forma se adapta às vontades e pensamentos do poeta!
J.A.R. – H.C.
Gloria Fuertes
(1917-1998)
El planeta tierra
El planeta tierra
debería llamarse
planeta agua.
En la tierra hay más
agua que cuerpo,
en el cuerpo hay más
cuerpo que alma,
en la tierra hay más
peces que aves,
en las aves más
plumas que alas.
En el verso hay más
sangre que tinta,
en la tinta más
sombra que nada,
en la nada hay más
algo que alga
y ese algo se mueve y
reluce
y nace la palabra.
De: “Historia de Gloria” (1980)
Equilibrado entre a Terra e a Poesia
(George Inness:
pintor norte-americano)
O planeta terra
O planeta terra
deveria chamar-se
planeta água.
Na terra há mais água
que corpo,
no corpo há mais
corpo que alma,
na terra há mais
peixes que aves,
nas aves mais plumas
que asas.
No verso há mais
sangue que tinta,
na tinta mais sombra
que nada,
no nada há mais algo
que alga
e esse algo se move e
reluz
e nasce a palavra.
De: “História de Glória” (1980)
Planeta Água
(Guilherme Arantes)
Referência:
FUERTES, Gloria. El planeta Tierra. In:
RUBIO, Fanny; FALCÓ, José Luis (Sellección, estudio y notas). Poesia española contemporánea: historia
y antología (1939-1980). 1. ed. Madrid (ES): Editorial Alhambra, 1981. p.
264-265.
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