Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 25 de março de 2016

Alphonsus de Guimaraens - Sexta-feira Santa

Relembrando o feriado santo de hoje, Alphonsus de Guimaraens, um dos grandes poetas do simbolismo brasileiro, demonstra a sua perícia na elaboração deste soneto, diretamente associado ao ambiente em que se passa a ação: câmara ardente, peristilo, portas de catedral, sexta-feira-santa...

A grandeza do poema se concentra exatamente nos recursos de sinestesia – tão caros à poesia simbolista – empregados em seus versos: as vozes a cantar junto aos violões, a visão do altar pelos crentes, o perfume que se espalha, todo o roxo que recobre o ambiente.

Ao descrever com tanta propriedade os elementos religiosos, parece-nos que Guimaraens manteve relação bastante próxima com as instituições católicas, seus textos canônicos e convenções.

J.A.R. – H.C.

Alphonsus de Guimaraens
(1870-1921)

Portas de catedral em Sexta-feira Santa

Portas de catedral em Sexta-feira Santa,
Grandes olhos cristãos piedosamente erguidos
Para o Altar onde a Glória imorredoura canta...
Brandos violões, brandos violinos dos sentidos:

Campo-santo onde flore a imarcescível planta
Do Amor que espera sempre os beijos prometidos,
E na hora vesperal, quando o luar se levanta,
Perfume para o olfato e som para os ouvidos:

Torres de eremitério onde os dobres dos sinos
Parecem prolongar um réquiem surdo e frouxo,
Um responso de morte acompanhado de hinos:

Grandes olhos cristãos de olheiras de veludo,
Altares quaresmais enfeitados de roxo,
Benditos para sempre Onde revive tudo!

De: “Câmara Ardente” (Perystilum) (1899)

Interior da Igreja de
Nossa Senhora do Pilar, em Ouro Preto (MG),
cidade natal do poeta

Referência:

GUIMARAENS, Alphonsus. Portas de catedral em sexta-feira santa. In: __________. Cantos de amor, salmos de prece: poesias escolhidas. Estudo crítico de Henriqueta Lisboa. Rio de Janeiro, RJ: Cia. José Aguilar Editora; Brasília, DF: Instituto Nacional do Livro, 1972. p. 105 (“Biblioteca Manancial”, n. 6).

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