De um longo poema em seis partes, contido na obra “La tortuga ecuestre”
(“A tartaruga equestre”, 1936-1939), do poeta e pintor peruano César Moro, extraímos
as duas primeiras estrofes, para ilustrar toda a perplexidade e relativização que
o permeia.
Como se vê, há um excesso de imagens, às voltas com certo
hermetismo, e mesmo a despeito disso, ao leitor sempre parecerá que se trata de
um texto de interpretação aberta, em linha com a manifesta sensualidade presente
em seus versos.
J.A.R. – H.C.
César Moro
(1903-1956)
El fuego y la poesía
En el agua quemante el sol refleja la mano de cenit
I
Amo el amor
El martes y no el
miércoles
Amo el amor de los
estados desunidos
El amor de unos
doscientos cincuenta años
Bajo la influencia
nociva del judaísmo sobre la vida monástica
De las aves de azúcar
de heno de hielo de alumbre o de bolsillo
Amo el amor de faz
sangrienta con dos inmensas puertas al vacío
El amor como apareció
en doscientas cincuenta entregas durante
cinco años
El amor de economía
quebrantada
Como el país más
expresionista
Sobre millares de
seres desnudos tratados como bestias
Para adoptar esas
sencillas armas del amor
Donde el crimen
pernocta y bebe agua clara
De la sangre más
caliente del día
II
Amo el amor de ramaje
denso
salvaje al igual de
una medusa
el amor-hecatombe
esfera diurna en que
la primavera total
se columpia
derramando sangre
el amor de anillos de
lluvia
de rocas
transparentes
de montañas que
vuelan y se esfuman
y se convierten en
minúsculos guijarros
el amor como una
puñalada
como un naufragio
la pérdida total el
habla del aliento
el reino de la sombra
espesa
con los ojos
salientes y asesinos
la saliva larguísima
la rabia de perderte
el frenético
despertar en medio de la noche
bajo la tempestad que
nos desnuda
y el rayo lejano
transformando los árboles
en leños de cabellos
que pronuncian tu nombre
los días y las horas
de desnudez eterna.
Fogo sob Gelo
(Stefania Silk:
artista alemã)
O fogo e a poesia
Na água fervente o sol reflete a mão do zênite
I
Amo o amor
A terça e não a
quarta-feira
Amo o amor dos
estados desunidos
O amor de uns
duzentos e cinquenta anos
Sob a influência
nociva do judaísmo sobre a vida monástica
Das aves de açúcar de
feno de gelo de alume ou de bolso
Amo o amor de face
sangrenta com duas imensas portas ao vazio
O amor como apareceu
em duzentos e cinquenta entregas durante
cinco anos
O amor de economia arruinada
Como o país mais
expansionista
Sobre milhares de
seres desnudos tratados como bestas
Para adotar essas
simples armas de amor
Onde o crime pernoita
e bebe água clara
Do sangue mais quente
do dia
II
Amo o amor de ramagem
densa
selvagem como uma
medusa
o amor-hecatombe
esfera diurna em que
a primavera total
se balança derramando
sangue
o amor de anéis de
chuva
de rochas
transparentes
de montanhas que voam
e se esfumam
e se convertem em
minúsculos seixos
o amor como uma
punhalada
como um naufrágio
a perda total a fala
do alento
o reino da sombra
espessa
com os olhos
salientes e assassinos
a saliva
compridíssima
a raiva de perder-te
o frenético despertar
no meio da noite
sob a tempestade que
nos desnuda
e o raio distante
transformando as árvores
em lenhos de cabelos
que pronunciam teu nome
os dias e as horas de
nudez eterna.
Referência:
MORO, César. El fuego y la poesía. In:
Ortega, Julio (Comp.). Antología de la
poesía hispanoamericana actual. 8. ed. México (DF): Siglo XXI, 2001. p.
18-19.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário