Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 11 de março de 2016

César Moro - O fogo e a poesia (excerto)

De um longo poema em seis partes, contido na obra “La tortuga ecuestre” (“A tartaruga equestre”, 1936-1939), do poeta e pintor peruano César Moro, extraímos as duas primeiras estrofes, para ilustrar toda a perplexidade e relativização que o permeia.

Como se vê, há um excesso de imagens, às voltas com certo hermetismo, e mesmo a despeito disso, ao leitor sempre parecerá que se trata de um texto de interpretação aberta, em linha com a manifesta sensualidade presente em seus versos.

J.A.R. – H.C.

César Moro
(1903-1956)

El fuego y la poesía

En el agua quemante el sol refleja la mano de cenit

I

Amo el amor
El martes y no el miércoles
Amo el amor de los estados desunidos
El amor de unos doscientos cincuenta años
Bajo la influencia nociva del judaísmo sobre la vida monástica
De las aves de azúcar de heno de hielo de alumbre o de bolsillo
Amo el amor de faz sangrienta con dos inmensas puertas al vacío
El amor como apareció en  doscientas cincuenta entregas durante
cinco años
El amor de economía quebrantada
Como el país más expresionista
Sobre millares de seres desnudos tratados como bestias
Para adoptar esas sencillas armas del amor
Donde el crimen pernocta y bebe agua clara
De la sangre más caliente del día

II

Amo el amor de ramaje denso
salvaje al igual de una medusa
el amor-hecatombe
esfera diurna en que la primavera total
se columpia derramando sangre
el amor de anillos de lluvia
de rocas transparentes
de montañas que vuelan y se esfuman
y se convierten en minúsculos guijarros
el amor como una puñalada
como un naufragio
la pérdida total el habla del aliento
el reino de la sombra espesa
con los ojos salientes y asesinos
la saliva larguísima
la rabia de perderte
el frenético despertar en medio de la noche
bajo la tempestad que nos desnuda
y el rayo lejano transformando los árboles
en leños de cabellos que pronuncian tu nombre
los días y las horas de desnudez eterna.

Fogo sob Gelo
(Stefania Silk: artista alemã)

O fogo e a poesia

Na água fervente o sol reflete a mão do zênite

I

Amo o amor
A terça e não a quarta-feira
Amo o amor dos estados desunidos
O amor de uns duzentos e cinquenta anos
Sob a influência nociva do judaísmo sobre a vida monástica
Das aves de açúcar de feno de gelo de alume ou de bolso
Amo o amor de face sangrenta com duas imensas portas ao vazio
O amor como apareceu em duzentos e cinquenta entregas durante
cinco anos
O amor de economia arruinada
Como o país mais expansionista
Sobre milhares de seres desnudos tratados como bestas
Para adotar essas simples armas de amor
Onde o crime pernoita e bebe água clara
Do sangue mais quente do dia


II

Amo o amor de ramagem densa
selvagem como uma medusa
o amor-hecatombe
esfera diurna em que a primavera total
se balança derramando sangue
o amor de anéis de chuva
de rochas transparentes
de montanhas que voam e se esfumam
e se convertem em minúsculos seixos
o amor como uma punhalada
como um naufrágio
a perda total a fala do alento
o reino da sombra espessa
com os olhos salientes e assassinos
a saliva compridíssima
a raiva de perder-te
o frenético despertar no meio da noite
sob a tempestade que nos desnuda
e o raio distante transformando as árvores
em lenhos de cabelos que pronunciam teu nome
os dias e as horas de nudez eterna.

Referência:

MORO, César. El fuego y la poesía. In: Ortega, Julio (Comp.). Antología de la poesía hispanoamericana actual. 8. ed. México (DF): Siglo XXI, 2001. p. 18-19.

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